André Esteves produziu uma boa notícia


André Esteves produziu uma boa notícia

Os bolsistas contaram histórias emocionantes.

Em 2019, o banqueiro André Esteves (BTG) teve uma ideia. 

Ele e seu sócio Roberto Sallouti resolveram criar uma instituição de ensino superior sem fins lucrativos, nos moldes dos institutos de tecnologia de Massachusetts e da Califórnia, surgidos nos Estados Unidos no século 19.

 Assim começou o Inteli, Instituto de Tecnologia e Liderança. Esteves doou R$ 200 milhões para a construção do campus e os custos operacionais.

(Nunca é demais lembrar que a vigorosa classe média americana dos anos 50 do século passado foi produzida em boa parte pela GI Bill de 1944, pela qual o presidente Franklin Roosevelt garantiu matrículas em universidades para 2,2 milhões de soldados que estavam combatendo na Europa e no Japão.)

Passados três anos, o Inteli existe, funciona em São Paulo num campus de 10 mil metros quadrados, e as aulas começaram para 180 estudantes (28% negros ou pardos).

Oferece cursos de ciências e engenharia da computação e sistemas da informação. A mensalidade custa R$ 5.500, mas metade dos alunos têm bolsas parciais ou totais.

Eles vieram de 63 cidades de 18 estados. Quando é o caso, recebem auxílio para moradia, alimentação e compra de equipamentos. 

É um dos maiores programas de bolsas da rede de ensino privada. Custa cerca de R$ 40 milhões e foi alimentado por 23 doações, do BTG, de seus sócios e de empresas privadas. 

A Fundação Telles, do empresário Marcel Telles, deu cinco bolsas. O Grupo Gerdau, quatro. Zero dinheiro da Viúva.

O Inteli paga ao seu corpo de professores salários três vezes superiores na média aos da rede privada de ensino. A pleno vapor, terá 2.000 alunos.

Essa iniciativa é mais um exemplo do surgimento de uma mentalidade filantrópica no andar de cima nacional.

Ela estimula o desenvolvimento tecnológico, área onde o Brasil prenuncia uma escassez de mão de obra. Isso no mundo dos grandes projetos, mas é na vida real da garotada que a ação do Inteli chega a ser emocionante.

Durante seu primeiro ano de cursos, o instituto produziu uma brochura com dezenas de depoimentos de bolsistas. Eles descreveram seus contextos familiares e mandaram mensagens aos doadores. 

É um documento que retrata o efeito benigno da filantropia e mostra uma juventude que esteve perto de descarrilar por falta de uma oportunidade.

Há casos de jovens vindos de famílias pobres, que não poderiam chegar a escolas de ensino superior. Esse é o caso de Alysson Carlos de Castro Cordeiro, 21 anos, de São Luís (MA):

"Na minha casa moram quatro pessoas, embora tenha uma casa nos fundos que foi dividida para minha outra irmã e seu namorado, deixando a casa menor para a família.

 Meus pais não terminaram o ensino fundamental. Minha mãe e minha irmã são feirantes (elas ajudam na economia da casa). Meu pai é pedreiro e caixeiro, contudo está desempregado."

Ele diz ao seu patrono: "Estou louco para que meu futuro aconteça para que eu possa ser um doador também. 

Agora eu te considero o meu pai adotivo-de-bolsa, não se preocupe; eu que te adotei kkkk."

O pai da mineira Bianca Cassemiro Lima, de 18 anos, é borracheiro. Ela manda sua mensagem: "Nunca se esqueça, você mudou minha vida".

São muitos os casos de jovens que conseguiram bolsas em escolas privadas, filhos de famílias de classe média com pai ou mãe que estudaram e estão desempregados, ou com ocupações precárias. 

Um tem o pai que concluiu o ensino médio trabalhando como cortador de grama e pintor. Em outro caso, os pais bancários estão desempregados.

Camila Fernanda de Lima Anacleto, 24 anos, de Campinas, é filha de uma técnica de enfermagem e o pai é freelancer.

Ela resume as experiências de muitos outros bolsistas: "Meus pais me perguntaram diversas vezes se era real mesmo. Eu mesma me faço essa pergunta. É real mesmo?"

O OBRIGADO DE GIOVANNA

Giovanna Rodrigues tem 17 anos e é de São Paulo e sua mãe é supervisora administrativa.

"[Ela] não possui renda para pagar uma faculdade particular para mim, mas isso nunca a impediu de acreditar que um dia eu conseguiria uma bolsa ou entraria numa faculdade pública. 

E foi nisso que eu me apoiei quando eu mesma não tinha fé. Se tem uma coisa que eu pretendo nunca fazer na vida é decepcionar a pessoa mais importante da minha vida.

Agora que eu tive alguém que acreditasse na minha capacidade, eu vou fazer valer a pena e quem sabe um dia eu possa ser uma doadora também. 

É por causa de pessoas como você que muitos jovens por aí ainda vão poder acreditar em seus futuros."

ELIO GASPARI - jornalista FSP

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