Escola cria projeto para saúde mental e concorre a
programa da Unesco
Iniciativa
do CEM Bom Jesus, no TO, começou durante a fase mais restritiva da pandemia.
Em 2020, quando a pandemia da Covid-19 fez com que
os alunos deixassem as salas de aula, o Centro de
Ensino Médio (CEM) Bom Jesus, no município de Gurupi, no Tocantins, criou uma
maneira de continuar acompanhando e dando apoio aos estudantes.
O projeto Gestão de Emoções surgiu como uma
iniciativa da escola para auxiliar a manutenção da saúde mental. Por meio de
encontros semanais online, o programa apresentava estratégias de como gerenciar os pensamentos de forma
positiva, proteger as emoções e melhorar o rendimento intelectual e as relações
interpessoais.
Cada reunião durava cerca de 50 minutos e contava
com a participação da psicóloga Elisandra Santiago, da orientadora educacional
do CEM Bom Jesus, Maria Joana Portilho, e da diretora Elizabeth Gama, que
possui formação em pedagogia e pós-graduação em Educação de Jovens e Adultos (EJA), orientação
educacional e neuropsicopedagogia clínica.
Com a volta das aulas presenciais,
as sessões passaram a ser realizadas em encontros mensais.
Como resultado desse acolhimento, o projeto foi
indicado para concorrer ao programa Rede de Escolas Associadas da Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que tem
como objetivo "construir as defesas da paz nas mentes" de seus
estudantes, de acordo com o site da agência.
O programa promove os valores e os
princípios da Constituição da Unesco e da Carta das Nações Unidas, que incluem
os direitos fundamentais e a dignidade humana, igualdade de gênero, progresso
social, liberdade, justiça e democracia, respeito pela diversidade e
solidariedade internacional.
"O Gestão de Emoções contribuiu para
refletirmos sobre o momento pandêmico que todos nós vivemos.
Nossos alunos
puderam pensar sobre suas atitudes enquanto estudantes, valorizando os momentos
em sala de aula e o convívio com os colegas, além de lidarem melhor com o
distanciamento social", afirma Elizabeth Gama.
"O projeto também nos auxiliou a obter um
resultado positivo no desempenho das atividades propostas, pois os jovens conseguiram ter mais ânimo para
a realização.
Em relação à questão profissional como docente, foi muito
positivo para repensarmos sobre o nosso papel enquanto educadores, gerenciando
os desafios da pandemia e ampliando nossa visão para a comunidade
escolar", conta a diretora.
Para Beatriz Araújo Cirqueira, 18, ex-aluna do CEM
Bom Jesus, os encontros ajudaram a lidar com sentimentos que ela enfrentava
antes mesmo da pandemia.
"Entrei na escola sendo uma pessoa muito
depressiva, explosiva e sem expectativa de vida.
Às vezes, eu chegava com
uma angústia enorme e sem ânimo, mas quando
eu era recebida com um sorriso do pessoal do projeto, ou até mesmo dos outros
alunos, aquilo mudava meu dia.
Logo nos primeiros dias falaram sobre autoestima
e resiliência e senti que era tudo o que eu estava passando.
Com o tempo,
enxerguei formas de melhorar aqueles sentimentos ruins que tinham dentro de
mim. Encontrei o meu motivo de viver e de como saber viver", diz Beatriz.
Já Ana Flávia Alves Maia, 18, aluna do terceiro ano
do ensino médio, relata que, ao ingressar na escola, sentiu-se sozinha e
desencorajada a estudar, mas que graças à iniciativa obteve o apoio que precisava.
"Toda semana era um tema diferente e cada um
deles vinha para mim de uma forma tão especial que toda a insegurança, a
solidão e o medo que eu tinha foram sumindo.
Para mim, foi o que mais me ajudou
na parte do EAD [ensino a distância] e a manter meus estudos. Além disso,
falamos também sobre bullying, um tema que me abalou muito na
infância, mas que com o Gestão de Emoções pude ressignificar e mudar minha
perspectiva, aceitando mais sobre a minha aparência", afirma Ana.
Para o estudante Paulo Henrique Rodrigues
Milhomens, 17, que também cursa o terceiro ano do ensino médio, a ação
promovida pela escola foi sua principal motivação para voltar a ter entusiasmo
para estudar e se reconectar com a família.
"Dois temas abordados pela diretora me
chamaram muito a atenção, que foi a motivação e a felicidade.
Na pandemia, sem
poder ir à escola e, consequentemente, longe dos meus amigos e professores, eu
me senti muito sozinho e desmotivado com os estudos.
Me sentia triste a maior
parte do tempo, porque não via razões para estar feliz. Mas com o projeto
realmente vi que não era aquilo e sim que eu estava distante de todos,
inclusive dos meus pais. Foi quando consegui me aproximar deles novamente e a
felicidade que eu não tinha voltou a bilhar no meu rosto", afirma Paulo
Henrique.
O CEM Bom Jesus é uma escola de ensino médio integral, uma proposta pedagógica
multidimensional, pública e gratuita.
A partir de um modelo de ensino que se
conecta à realidade dos jovens e ao desenvolvimento de suas competências
cognitivas e socioemocionais, propõe a formação integral dos estudantes.
Trabalha pilares como projeto de vida, aprendizado na prática, tutoria,
protagonismo juvenil, acolhimento, orientação de estudos e eletivas, que
promovem a formação completa do estudante, junto aos componentes curriculares
já previstos na BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Está presente em cerca
de 4.301 escolas em todo o país, envolvendo quase 1 milhão de estudantes.
SILVIA HAIDAR – blog SAÚDE MENTAL