Para especialistas, medo da
reforma previdenciária é o principal motivo da busca pelo benefício.
A intensa discussão sobre a reforma da Previdência provocou uma
corrida de trabalhadores da região em busca da aposentadoria,
antes que sejam definidas possíveis mudanças nas regras. Reflexo disso é que,
no ano passado, 20.337 pessoas tiveram o benefício aprovado, o que representa
cerca de 55 a cada dia. Conforme dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), em dezembro de 2016 a região tinha 315.238 aposentados, que, juntos,
recebiam aproximadamente R$ 562,3 milhões.
Exatamente um ano depois, o
número de benefícios no Grande ABC chegou a 335.575, um aumento de 6,48% (veja
mais detalhes na arte acima). De acordo com o diretor de políticas públicas da
Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC Luís
Antônio Ferreira Rodrigues, o receio relacionado à mudança nas regras de concessão
foi o principal fator que influenciou no aumento. “Todo mundo está com medo da
reforma. Então, a gente percebe que tem um desespero.
Isso porque muita gente pensa que não vai mais conseguir ou terá
que trabalhar por mais tempo, quando a reforma for aprovada”, comenta.
Especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e
Luchin Advogados, Murilo Aith faz um alerta, pois avalia que a
corrida para ter o benefício aprovado o mais rápido possível não é vantajosa
para todos aqueles que já podem requerer a aposentadoria.
E aponta o fator previdenciário como problema.
“Só é vantajoso se aposentar
imediatamente se o segurado cumpriu os requisitos que afastam o fator
previdenciário. Ou seja, cumpriu a regra dos 85/95, que acontece quando a
mulher atinge 85 pontos somados a idade e o tempo de contribuição e o homem, da
mesma forma, só que com 95. Para quem não se enquadra, a orientação é para não
solicitar o benefício”, explica.
Para Murilo Aith, a corrida pela aposentadoria
é classificada como precipitada. “Se a reforma de fato for aprovada, não é do
dia para a noite que tudo muda. Tem um trâmite, que deve ser seguido no
Congresso. A pessoa só deve se preocupar e agir de forma mais rápida caso
avalie que será prejudicada. Mas, no momento, isso é precipitação.”
Pouco a celebrar
No Dia do Aposentado,
comemorado hoje, o beneficiário tem pouco a comemorar na região. Segundo a
Associação dos Aposentados, a estimativa é de que 60% dos 315.238 beneficiários
ainda precisam trabalhar no mercado formal ou informal para complementar a
renda. O INSS não forneceu dados regionais oficiais sobre esse contingente.
O zelador Diaulo Teodoro de
Sousa, 78 anos, morador de Ribeirão Pires, faz parte da estatística de quem
precisa continuar a trabalhar, mesmo após se aposentar – no caso dele, em 1997.
Afinal, o salário mínimo que recebe do INSS (R$ 954) não é suficiente para
garantir todos os gastos da casa. O trabalho como zelador lhe garante salário
de cerca de R$ 1.100.
Ele mora com a mulher, mas também ajuda a família, quando há
necessidade. São três filhos, nove netos e três bisnetos. “Só o dinheiro da aposentadoria
não é o suficiente, e olha que minha mulher é bastante econômica. Muitas vezes
a gente tira da nossa boca para ajudá-los (familiares). Tenho uma neta que está
desempregada há quatro meses e sempre que ela precisa de um valor, empresto.”
Mesmo com a renda extra, não
consegue ter acesso a serviços como plano de saúde, por exemplo. “Isso porque
moro em casa própria, mas não dá para pagar mais nada. Até para comprar roupa a
gente deixa para lá. Quando precisamos de alguma coisa de saúde, utilizamos a
rede pública.”
Apesar de não precisar trabalhar para complementar a renda, o
motorista aposentado Manoel Brites, 93 anos, foi obrigado a fazer cortes no
orçamento para conseguir viver com o valor que recebe da aposentadoria.
“Antes fazia muitas viagens, mas agora não tem mais como pensar nisso.
No começo foi difícil se
adequar à nova realidade. Vejo a situação de quem recebe menos, que é muito
pior”, diz ele, que ganha cerca de R$ 1.900 de benefício e mora com a mulher e
uma cuidadora de idosos, também em Ribeirão Pires.
Fonte: Aith Badari e Luchin
Advogados, Diário do Grande ABC