O consumo de álcool entre os mais velhos está aumentando em vários países – e os médicos insistem que é necessário encarar esse fenômeno como um problema grave e real, por conta dos efeitos sobre a saúde pública e dos idosos. O estudo mais recente, liderado pelo doutor Benjamin Han, do NYU Langone Health de Nova Iorque, foi publicado há poucos dias no Journal of the American Geriatrics Society.
Depois de entrevistar quase 11 mil idosos, os pesquisadores concluíram que mais de dez por cento (10,6% exatamente) tomam porres com frequência. O uso de álcool vem se tornando mais frequente entre os mais velhos: entre 2001 e 2013, os que beberam no ano anterior ao momento da pesquisa aumentaram em 22,4%, a maior elevação entre todas as faixas etárias. O aumento no chamado consumo de alto risco foi de 65,2% e chegou aos 106,7 % no transtorno do uso de álcool entre adultos com 65 anos ou mais.
A Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, uma divisão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos prevê que o número de americanos com mais de 65 anos que abusam de drogas e álcool deve chegar aos 5,7 milhões no ano que vem – o dobro em relação ao número de 2006.
O programa de álcool do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA estima que o consumo excessivo de álcool custa ao país cerca de 249 bilhões de dólares e contribui para cerca de 88.000 mortes anualmente. Problemas crônicos de idosos, como a hipertensão arterial são agravados pelo abuso de bebida. Um jovem de 21 anos sofre uma queda e muitas vezes pode se recuperar facilmente. Um velho de 81 anos corre risco de morte na mesma queda – que a perda de equilíbrio provocada pelo álcool acarreta. De modo geral, um corpo envelhecido tolera menos o álcool.
Os médicos avaliam também que, por não verem seus pacientes idosos como bebedores compulsivos, podem estar deixando de fazer as perguntas certas quando estes relatam quedas frequentes e outros transtornos relacionados ao consumo de álcool.
Alguns dados globais, da Organização Mundial da Saúde, mostram que há uma enorme parcela da humanidade que costuma beber – mas não a maioria: em 2016, mais da metade (57% ou 3,1 bilhões de pessoas) da população global com 15 anos ou mais se abstivera de beber álcool nos últimos 12 meses, enquanto cerca de 2,3 bilhões de pessoas eram bebedores atuais. O álcool só é consumido por mais da metade da população em três regiões – Américas, Europa e Pacífico Ocidental. Na África, Américas, Mediterrâneo Oriental e Europa, a porcentagem de bebedores diminuiu desde 2000.
O consumo total de álcool per capita na população mundial com mais de 15 anos de idade subiu de 5,5 litros de álcool puro em 2005 para 6,4 litros em 2010 e ainda estava no 6,4 litros em 2016. Os níveis mais elevados de consumo per capita de álcool foram observados em países da Região Europeia da OMS. Um quarto (25,5%) de todo o álcool consumido em todo o mundo nem entrou nas estatísticas nacionais – foi produzido à margem do mercado formal.
Em Portugal, o consumo médio de bebidas alcoólicas é de 146 gramas por dia, ou um copo e meio de vinho. Homens bebem mais que mulheres e os idosos mais que os adultos. O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física, da Universidade do Porto, apresentado em março do ano passado revelou que acima dos 65 anos 5% dos idosos bebiam diariamente mais de 1 litro (1142 g) de bebida alcoólica. O vinho era a bebida mais consumida. Em 2015 viviam em Portugal 2,1 milhões de idosos, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Ou seja, 105 mil idosos tinham este consumo excessivo.
No Brasil, uma pesquisa DataFolha realizada em setembro de 2017 mostrou que quase um em cada dez homens idosos brasileiros (9%) bebia todos os dias, cinco vezes a média do país (2%) e o dobro do percentual de beberrões (4%). Entre as idosas, 81% não bebiam, contra 57% dos idosos, o que confirma a tendência na população em geral de as mulheres serem menos expostas ao álcool que os homens (63% delas não bebem, contra 6% dos homens). A faixa etária que mais consumia álcool regularmente estava entre os 25 e os 34 anos – 57%. Até os 54 anos, os que admitiram ter o costume de beber era mais de 40%, Dos 55 aos 59 o percentual cai para 39%, diminui para 29% na faixa seguinte (60 anos ou mais) e para 17% acima dos 80 anos. O DataFolha ouviu 2.732 brasileiros maiores de 16 anos no dia 3 de setembro de 2017.
Kumar Dharmarajan, um geriatra e diretor científico da Clover Health de San Francisco, na Califórnia, reuniu quatro dicas para os maiores de 65 que não pretendem se afastar definitivamente todos os cálices (alcoólicos):
1. Aprecie com moderação . O NIAAA – National Instituto of Álcool Abuse and Alcoholism – recomenda que inclusive ps adultos com mais de 65 anos, saudáveis e que não tomam medicamentos limitem seu consumo de álcool a não mais do que três doses em um determinado dia e não mais do que sete doses por semana.
2. Verifique seus medicamentos. Quase metade dos adultos entre 70 e 79 anos usam cinco ou mais medicamentos sob prescrição para tratar doenças crônicas, cada uma com interações medicamentosas únicas. Além disso, vários medicamentos mais comuns, incluindo xarope para tosse e certos medicamentos para alergia, podem ser perigosos se misturados com álcool. Consulte seu médico sobre se o consumo de álcool é seguro com base em seus medicamentos.
3. Se beber, não dirija mesmo. À medida que envelhecemos, nossa tolerância ao álcool diminui. Para os idosos, os efeitos do álcool são percebidos mais rápida e intensamente, especialmente se estiverem tomando certos medicamentos. Uma única dose pode afetar a capacidade de adultos com 55 anos ou mais de dirigir com segurança.
4. Ajude o outro. Com o abuso de álcool se tornando cada vez mais comum entre os idosos, muitos influenciados pela solidão, o tédio e a aposentadoria, ajuda pode ser muito importante. Grupos de apoio como AA ou terapia ambulatorial também podem contribuir nessa batalha.
Paulo Markun – jornalista
Fonte: coluna jornal FSP