O que é fato e o que é fake na
ciência da longevidade
Pesquisadores identificam
mecanismos do envelhecimento e buscam tratamentos com potencial para aprovação
em breve; público precisa discernir avanços reais de charlatanismo
“Who wants to live forever?” –
perguntou cantando Freddie Mercury, que teve uma vida brevíssima,
em um dos muitos sucessos do Queen.
Viver para sempre?
Respondo como responderia Bartleby, o escrivão, personagem
de Herman Melville: “Prefiro não”.
Para sempre é muito tempo. Mas isso não quer dizer que tenho pressa.
Já que a vida é uma experiência tão rara, vale a pena prolongar um pouquinho
mais, nem que seja por curiosidade, para ver o que acontece.
Existe a expectativa de que novos medicamentos sejam
aprovados nos próximos cinco anos.
A “biologia do envelhecimento” está
em alta, e intervenções moleculares e genéticas que visam retardar o processo
subjacente ao envelhecimento recebem cada vez mais atenção e, claro, dinheiro.
O que se sabe de verdade
A ciência da longevidade é
ancorada pela hipótese de que o envelhecimento não é um processo
insolúvel. Por muito tempo, a comunidade científica ignorou essa área,
resultando em menor financiamento; o investimento em pesquisa sobre o câncer é,
em média, 20 vezes maior do que em biologia do envelhecimento.
Mas isso começa a mudar,
e o gatilho aconteceu nos anos 1990, quando os cientistas aprenderam que
modificar um único gene em um verme nematoide poderia duplicar seu tempo de
vida.
Embora essa descoberta não se aplique diretamente aos humanos, ela
estabeleceu que o envelhecimento é um processo modificável.
Desde
então, pesquisadores identificaram os marcadores do envelhecimento, ou seja, os
motores moleculares e celulares por trás do processo de ficar mais velho.
Esses
motores variam desde danos ao DNA e proteínas até alterações hormonais e perda
de eficiência do sistema imunológico.
Conhecer esses motores
aumenta as chances de os cientistas descobrirem como desacelerá-los.
Já existem
dezenas de pistas promissoras obtidas em testes com animais e em laboratório
para retardar – talvez reverter – o envelhecimento em humanos.
Um
exemplo consiste na ideia da reprogramação epigenética, uma técnica que fez com
que células de uma pessoa de 114 anos se tornassem quase indistinguíveis
daquelas encontradas nos primeiros momentos da vida.
Intervenções promissoras e desafios de mercado
Múltiplas abordagens estão em
estudo, incluindo intervenções nutricionais não farmacêuticas, como a restrição
calórica em animais, que poderia prolongar uma vida saudável. Intervenções
genéticas e a renovação de células-tronco na medula óssea de camundongos também
mostram potencial.
Em termos de medicamentos, uma
combinação de rapamicina e acarbose é atualmente uma das líderes, fazendo
camundongos viverem 30% a 40% mais.
Outra classe de fármacos, os senolíticos,
que matam células envelhecidas, prolongou a vida de camundongos, reduziu a
incidência de câncer e problemas cardíacos, e melhorou a cognição e a aparência
física.
Tratamentos que
funcionam em camundongos se mostraram eficazes mesmo quando iniciados na
meia-idade avançada.
Algumas drogas que retardam o envelhecimento em roedores
já são utilizadas com segurança por milhões de pessoas globalmente, o que
simplifica a realização de testes clínicos focados em longevidade, caso haja
financiamento disponível.
O
desenvolvimento de meios para medir a “idade biológica” também acelerará os
testes clínicos. Isso permitiria avaliar a eficácia de um tratamento em poucos
meses, em vez de esperar anos para observar se os participantes adoecem ou
morrem.
Enquanto a pesquisa científica avança em seu ritmo natural, e
é um pouco demorado mesmo, tem gente capitalizando o medo da morte e a pressa
pela longevidade.
O mercado de saúde está saturado de suplementos e dietas
vendidos por charlatões que prometem vida saudável e quase imortalidade, sem
evidências clínicas adequadas.
Fonte: site o Antagonista