Muita
gente tem uma visão idealizada de como a vida pode ser maravilhosa na
aposentadoria e sonha com o dia em que será possível parar de trabalhar para
desfrutar a tão sonhada "boa vida". Não ter que acordar cedo todos os
dias e enfrentar o trânsito para ir ao trabalho; livrar-se de metas, orçamentos
e prazos que precisam ser cumpridos; poder viajar quando quiser e viver tempos
de muito ócio e diversão. Parece bom, hein? Entretanto, a realidade pode ser
bem diferente principalmente para quem não planejou emocional e financeiramente
esse período da vida.
VIDA PESSOAL
Deixar uma carreira de sucesso e um trabalho estimulante é um
desafio. O que fazer com todo o tempo livre que você terá? Esse planejamento é
tão importante quanto o financeiro. Se o seu foco durante a fase ativa foi
exclusivamente sua carreira, é possível que você não tenha outros interesses,
atividades e amigos. Você terá muita vida pela frente e precisa decidir o que
fazer e como gastar o dinheiro que acumulou.
BALANÇO DOS RECURSOS
Muita gente não se preocupa se tem bens e renda suficiente para
reduzir a carga de trabalho ou se aposentar de uma vez. A vida fica mais fácil
quando ignoramos certos assuntos, mas, neste caso, pode impedir que você saiba
se está financeiramente preparado para tomar essa decisão. Fundamental definir
a necessidade mensal de caixa na aposentadoria e se o patrimônio acumulado
poderá suprir essa renda.
REPENSE OS SEGUROS
Durante os anos em que esteve empregado você provavelmente
contratou um seguro de vida e de acidentes pessoais para proteger a si mesmo e
seus dependentes contra o risco de incapacidade de prover renda.
Agora você tem patrimônio suficiente para se aposentar e o que
antes era risco deixou de ser. Com o apoio de um bom corretor, repense os
seguros que podem ser cancelados, mantidos ou contatados.
CUIDAR DA SAÚDE
Despesas médicas no período de aposentadoria e o custo de
cuidados domiciliares podem ser assustadores. Ampliar a cobertura do plano de
saúde, morar em uma comunidade de aposentados, ou não fazer nada, depende da
sua situação pessoal e financeira. É prudente planejar essa demanda avaliando
todas as opções possíveis.
PLANO DE PREVIDÊNCIA
Se você tem plano de previdência aberto ou fechado, concedido
pela empresa onde trabalhou, chegou a hora de decidir o que fazer com o
dinheiro acumulado. Pesquise e avalie as alternativas: manter o dinheiro no
plano e continuar depositando; sacar os recursos de acordo com sua necessidade;
ou escolher um dos benefícios do plano e converter o capital acumulado em renda
mensal.
O valor do benefício é definido com base em expectativa de vida.
Quanto menor sua idade no início do recebimento da pensão, menor será o valor
da renda mensal. Se você pretende continuar trabalhando, avalie a possibilidade
de manter o plano e converter em benefício somente quando a renda for mais
favorável.
Avalie também o impacto fiscal de cada alternativa. A alíquota
do Imposto de Renda é definida com base na sua faixa de renda (regime
tributável) ou com base no tempo decorrido desde a data dos depósitos (regime
de tributação definitiva). Verifique se haverá redução de imposto caso aguarde
alguns meses ou anos para fazer a opção. Seguradoras ou mantenedoras do plano
de previdência podem simular as hipóteses para orientar sua decisão.
Se você optar pela conversão do dinheiro acumulado em renda
mensal, verifique quais são os tipos de benefício que o plano oferece e decida
se deseja renda a ser paga somente para você, em vida, ou se o benefício será
reversível a beneficiários. Quanto maior o tempo de pagamento do benefício,
menor será o valor da renda mensal. Veja alguns exemplos de benefícios, leia o
contrato do seu plano para saber quais estão disponíveis e consulte um bom
corretor de seguros, especializado em previdência, para apoiá-lo na decisão.
Renda vitalícia: somente o participante recebe, enquanto viver.
O benefício é cancelado no falecimento, não havendo devolução de capital ou
pagamento a beneficiários.
Renda temporária: somente o participante recebe no período
escolhido. O pagamento cessa com o falecimento ou com o término do prazo, o que
ocorrer primeiro. Não há devolução de capital ou pagamento a beneficiários. A
renda mensal temporária será maior do que a renda mensal vitalícia devido ao
limite no tempo para o pagamento do benefício ao contratante.
Renda vitalícia reversível ao beneficiário: o participante
recebe, enquanto viver. Após o falecimento, o beneficiário passa a receber o
percentual da renda definida no contrato, enquanto viver.
MARCIA DESSEN - certified financial
planner, é sócia do BMI (Brazilian Management Institute), professora convidada
da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de
Profissionais Financeiros. É autora do livro "Cuide Bem do seu
Dinheiro" (Editora Pearson, 2013).
Fonte:
coluna semanal no jornal Folha de São Paulo