As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de
pensão) irão pagar mais de R$ 30 bilhões em benefícios em 2015. Este montante
pode superar o volume de entrada de novos recursos dos participantes nos
fundos.
“Os planos tradicionais já são grandes pagadores de benefícios.
Em geral já pagam mais benefícios do que recebem novos recursos. Se não houver
a entrada significativa de participantes, os fundos de pensão vão encolher”, aponta
o presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar (Abrapp), José Ribeiro Pena Neto.
Numa estimativa simples, considerando uma expectativa de
inflação oficial em torno de 7% para este ano, os fundos de pensão deverão
desembolsar R$ 34 bilhões entre pagamentos de aposentadorias programadas,
aposentadoria por invalidez e pensões aos participantes.
De acordo com o último consolidado estatístico da Abrapp, no
primeiro semestre de 2014, as fundações pagaram R$ 14,63 bilhões em benefícios
para 661,1 mil assistidos, sendo R$ 12,22 bilhões em aposentadoria programada,
R$ 570,38 milhões em aposentadoria por invalidez e o valor de R$ 1,844 bilhão
em pensões.
“Se considerarmos valor semelhante para o segundo semestre e o
décimo terceiro, o valor passa de R$ 30 bilhões em 2014. Mas temos que incluir
a correção da inflação. E a inflação alta preocupa muito as entidades”, indicou
Pena Neto. Nessa projeção, o pagamento de benefícios no ano de 2014 pode ter
fechado em torno de R$ 31,7 bilhões.
Em 2013, as entidades haviam pago R$ 27,9 bilhões para 662,36
mil participantes assistidos, sendo R$ 23,343 bilhões em aposentadoria
programada, R$ 1,1 bilhão em aposentadoria por invalidez e R$ 3,4 bilhões em
pensões.
Na prática, o ritmo de crescimento de dois dígitos nos
pagamentos de benefícios ficou superior ao ritmo de evolução de patrimônio
líquido dos fundos de pensão no biênio 2013 e 2014. “Pelas nossas estimativas
posso dizer que o quarto trimestre de 2014 foi terrível para os fundos de
pensão, o crescimento do patrimônio ficou próximo de zero [no trimestre]”, diz
Pena Neto.
Depois da estagnação do patrimônio líquido em 2013, as entidades
apresentaram crescimento de apenas 5,36% nos nove meses seguintes de 2014, de
R$ 640 bilhões em dezembro de 2013 para R$ 674,7 bilhões em setembro de 2014.
Como pagar essa conta?
O presidente da associação aponta que sem incentivos, os planos
terão que ficar mais “líquidos” (aplicados em ativos de curto prazo) daqui para
frente. “Estamos fazendo um estudo e iremos mostrar ao governo. Nesse momento,
não podemos contribuir com investimentos de longo prazo”, disse Pena Neto, ao
descartar algum interesse maior dos planos em investimentos em energia e
infraestrutura como aeroportos, portos e rodovias.
De fato, os números do último consolidado estatístico da Abrapp
mostram que as entidades estão concentrando e aportando mais recursos em ativos
e fundos renda fixa.
No raio X do segmento, a participação percentual em títulos
públicos evoluiu de 10,5% para 11,5%, e a participação em fundos de
investimentos em renda fixa cresceu de 45,7% para 46,9%.
“As NTN-Bs [Notas do Tesouro Nacional série-B] tem sido uma
alternativa para os planos, pois ela [a NTN-B] é corrigida pela inflação e paga
juros reais entre 5,5% e 6% ao ano. O volume em títulos de crédito privado,
indexado ao IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] ainda é muito pequeno e
não tem um mercado secundário de título privado, próximo do inexistente”,
justificou Pena Neto sobre a concentração em papéis públicos, a dívida do
governo.
Ao mesmo tempo, o patrimônio em renda variável (ações e fundos
de ações) recuou de 29% em 2013 para 26,8% em setembro de 2014.
“Infelizmente, a máxima de que a renda variável dá mais retorno
no longo prazo não tem sido verdadeira no Brasil. Nos últimos 5 a 7 anos, a
realidade tem sido muito difícil na Bolsa de Valores. Se em 2015 a renda
variável der resultado vou ficar alegre e surpreso. A incerteza de curto prazo
está incomodando muito”, diz.
Pena Neto também lembrou que os grandes planos patrocinados por
estatais estão maduros. “A Previ, por exemplo, tem o desafio do
desinvestimento.”
Fonte: assistants.com.br