O post anterior tratou do OCDE Better Life Index (Indicadores
para uma Vida Melhor da OCDE) que está online (clique aqui). No site, encontra-se disponível
para download o Resumo Executivo (clique aqui), documento
no qual a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dá as
diretrizes sobre a importância desse indicador para a construção de políticas
públicas.
Desde que comecei a trabalhar com Educação Previdenciária, entendo que a OCDE
está em busca de parâmetros globais, com aplicações locais. O desenvolvimento
econômico é o foco, mas não está dissociado do desenvolvimento social. E um
indicador que se proponha a investigar a vida cotidiana das PESSOAS, para mim,
necessariamente está apontando para o protagonismo, a cidadania.
Por desenvolver conteúdo para redes sociais, observo diferentes manifestações
online. É curioso constatar que a mesma população global, que vai às ruas por
mais democracia, saúde, educação, segurança e menos corrupção é a mesma que dá
o maior índice de popularidade ao cantor coreano Psy. Ao mesmo tempo, mostra-se
resistente a simplesmente curtir ou compartilhar conteúdos mais densos, mais
analíticos. Para mim, essa diversidade revela um comportamento ainda de
extremos: gosto / não gosto. Só que a complexidade do mundo exige mais do que
isso. Por isso, temos que evoluir.
Este post não se restringe ao Brasil. Estou escrevendo pela perspectivas dos
números, das estatísticas. As manifestações populares ganharam expressão pelas
redes sociais com e a partir da Primavera Árabe e se expandiram para Europa e
Estados Unidos, antes de chegarem ao Brasil.
Governança global
O adensamento das cidades é um fato que se constata muito facilmente. É só
olhar pela janela, andar pelas ruas especialmente das capitais. Traz a reboque
a questão tão complexa e delicada da governança. Como conciliar diferentes
interesses? Como dar expressão a diferentes interesses? Diante de tantas
prioridades - abastecimento de saneamento básico e energia, transporte público,
escola, hospitais - como fazer, por exemplo, para que neste conjunto caiba
também a Previdência Oficial e Complementar, a Educação Previdenciária?
A longevidade é um fenômeno global. A OCDE acompanha isso e, por essas razões,
incluiu qualidade, equilíbrio, satisfação de vida, protagonismo entre os
quesitos que está avaliando com o seu indicador.
Sem expressão, sem PESSOAS que se disponham a discutir, a atuar, a disseminar,
a compartilhar, a insistir para colocar o tema longevidade em pauta, há o risco
histórico de outras prioridades assumirem a dianteira na agenda
politico-econômica local e global. Na última sexta-feira, no meio de uma
reunião sobre arquitetura da informação, surgiu a pergunta de um dos
profissionais que trabalham no projeto:
"Eu me formei há dez
anos, sou publicitária autônoma e não contribuo com a Previdência Oficial. Como
é que eu recupero isso?".
Pela perspectiva individual e
financeira, é possível tomar algumas providências. Não vão repor as perdas mas,
aos 30 anos de idade ainda, dá para fazer uma poupança com horizonte
previdenciário para garantir alguma renda ou proteção no pós-carreira.
Mas eu fico com a pergunta: quantos publicitários são autônomos no Brasil? A
Educação Previdenciária tem que chegar às universidades! A maior providência
que se tem que tomar é coletiva. O pós-carreira deve ser planejado quando o
profissional ingressa no mercado de trabalho.
Não dá para depender do empregador. Não dá para depender do Governo, como diz o
Ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves em entrevista à Revista
Fundos de Pensão, edição 392.
"É porque todo mundo espera do governo. Parece que o envelhecimento
é um desafio só para o governo. E não é! É um desafio para cada um. Não é o
governo que precisa resolver o problema dele (do trabalhador), ele é quem deve
saber que precisa poupar e contribuir com a previdência para resolver o seu
problema".
Eu entendo que para lidar com
essa demanda de consciência, de posicionamento, de protagonismo das PESSOAS em
relação às escolhas, o tema financiamento público e privado da longevidade
precisa ser mais discutido do que, por exemplo, temas com grande apelo popular
como o incentivo fiscal ao consumo ou a distribuição de renda via criação de
bolsas assistenciais. E o espaço público para essa discussão envolve, sim, o
Governo. Mas, antes do Governo, dá para ganhar escala, por exemplo, via redes
sociais.
É ingenuidade querer que o Governo se sensibilize com uma necessidade social
que ainda não tem expressão. Há anos, somente 3% da população economicamente
ativa têm Previdência Complementar. E o Ministro sabe disso. A mudança começa
com consciência e protagonismo.
Eliane Miraglia -
mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos
Comunicacionais e consultora de comunicação, tem participado em projetos com a
Suporte Educacional.
Fonte: blog da Eliane: www.elianemiragliablogspot.com.br