Tomografia e glicose radioativa
podem ajudar a determinar quem tem chances de voltar do coma
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Acredite-se ou não em almas ou espíritos, fato é que
sem o funcionamento correto do cérebro, não há consciência possível. O problema
– ou vantagem, dependendo do ponto de vista– é que a consciência não é binária.
Pancadas na cabeça e outros insultos podem deixar o
cérebro em um estado de limbo, nem lá, nem cá, o que é um desafio para médicos
e uma tortura para a família. A boa notícia é que a capacidade de recuperação
do cérebro é maior do que se acreditava há poucas décadas. A má é que, muitas
vezes, a perda da consciência não tem volta.
O problema, na prática, é que decisões difíceis
precisam ser tomadas nessas horas –mas nem sempre o prognóstico é claro.
Dependendo da lesão, um paciente em estado vegetativo pode ou não recobrar a
consciência.
Mas como dizer quem tem chances ou não?
Diagnosticar o estado real do cérebro e a perspectiva de recuperação é um dos
grandes desafios da neurologia.
Recentemente, vários grupos vêm buscando uma
maneira objetiva de determinar a chance real de recuperação do cérebro. Já se
sabe que recobrar a consciência depende da preservação de atividade nos
circuitos córtico-talâmicos, necessários para tornar a informação dos sentidos
em percepções conscientes. Mas quanto é suficiente? Até que ponto é razoável
manter a esperança?
Um estudo recente de centros de pesquisa na Dinamarca,
Bélgica e EUA testou uma nova abordagem: usar tomografia por emissão de
pósitrons para detectar o consumo de glicose radioativa no hemisfério menos
afetado do cérebro, com o cuidado de normalizá-la pelo consumo de glicose pelo
resto do corpo.
O grupo constatou uma diferença bastante clara
entre o grupo de pacientes minimamente conscientes, com melhores chances de
recuperação, e aqueles em estado vegetativo: os primeiros tinham em média 52%
do metabolismo cerebral de pessoas conscientes, enquanto os outros, apenas 38%.
Mais importante ainda é que um critério de 42% do metabolismo normal conseguiu
prever corretamente 94% dos casos em que o paciente recobrou a consciência no
ano seguinte.
O estudo é um alento para médicos e famílias. O
pequeno problema é que a medição somente pode ser feita em hospitais vizinhos a
centros de pesquisa com um cíclotron para produzir a glicose marcada com
radioatividade. Se mal há dinheiro para pesquisa no Brasil...
Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ, autora do
livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante)
Fonte: www.suzanaherculanohouzel.com