Ano novo, vida nova


José passou por inúmeros apertos financeiros durante o ano e usou, com dor no coração, todo o 13º salário para pagar dívidas. Para quitar a fatura do cartão, precisou, também, resgatar uma aplicação financeira que estava sendo carinhosamente cultivada para realizar um sonho da família, adiado mais uma vez.

Infelizmente, reduziu pouco o saldo devedor do cheque especial, também usado para cobrir as despesas extraordinárias, já que a maior parte do dinheiro foi usada para pagar juros. Reduzir a dívida que é bom, quase nada. Ele está inconformado, devia R$ 5.000, pagou R$ 4.000 e ainda deve R$ 3.000. "A conta não fecha nunca", lamenta José.

Ele sempre ouviu falar que os juros são muito altos, mas nunca tinha sentido na pele a dolorosa experiência de entregar boa parte do salário e o 13º inteiro para os bancos e administradoras dos cartões. Só quando somou a quantidade de dinheiro desembolsado com o pagamento de juros entendeu quão caro eles são; está decidido a pagar a dívida que ainda resta e não se
meter nessa enrascada novamente.

Ele fez um pacto com ele mesmo: vai fechar 2018 no azul, com saldo positivo, a aplicação financeira será, ao menos, parcialmente refeita e o 13º será dele, de mais ninguém. Sabe que não será fácil, mas possível. Para isso, terá de mudar hábitos e, sobretudo, planejar antes de gastar.

José teve uma motivação forte para fazer essa transformação: nem ele nem a família souberam explicar para si mesmos o que foi feito com
o dinheiro dos empréstimos que custaram tanto. Parece que o dinheiro foi usado em um turbilhão de pequenas despesas, que, juntas, provocaram
um enorme rombo no orçamento.

Em 2018, fará diferente, fará melhor. Vai parar de transferir renda para bancos pagando juros de empréstimos que podem ser evitados. Da próxima vez em que precisar de crédito, será para financiar um bem específico, como a compra de uma casa, um carro, ou reformar a casa. Empréstimo para apagar incêndio de contas mal geridas, nunca mais.

José começará 2018 com o pé direito e tem muitas mudanças
programadas. Com a concordância e o apoio da família, está confiante de que serão capazes de mudar, e para melhor.

ORÇAMENTO detalhado permitirá planejar os gastos antes que sejam feitos. Primeiro, vai separar 10% do salário para recompor a reserva financeira. Na sequência, as obrigações, importantes e urgentes, como pagar os empréstimos em aberto.
Depois, as despesas essenciais, como moradia, alimentação, educação e saúde. Lazer, embora desejável, talvez seja sacrificado neste ano, período de reforma nas finanças.

LIMITES de gastos serão estabelecidos, mesmo as despesas essenciais, como alimentação, podem ser gerenciadas. Onde comemos, em casa ou em restaurantes, e o que comemos fazem toda a diferença no orçamento. É possível comer bem
e saudável com menos dinheiro.

RENEGOCIAR, redimensionar ou cancelar contratos com fornecedores de telefonia, internet, bancos, academias. O custo de contratos não negociáveis, como o de energia elétrica, pode ser reduzido mudando a forma como usamos essa energia.

CARTÕES de crédito não serão usados enquanto as dívidas não forem pagas; tudo será pago em dinheiro já separado para os gastos necessários da casa. Os famosos e frequentes "quero comprar" serão ignorados, e só os "preciso comprar" terão chance. Se o "preciso comprar" também não for "importante e urgente", vai para a fila de espera, onde é grande a chance de ser reclassificada como desnecessária.

Sabe, José, a gente aprende a viver com menos. Simplificar a vida é um exercício que traz muitos benefícios, não apenas financeiros, acredite. Persevere, você está no caminho certo. O melhor exemplo que deixamos para nossos filhos? O nosso.

Feliz 2018 aos Josés e às Marias que me acompanham neste espaço! "Feliz como, no meio de tanta crise, corrupção e vergonha?", perguntam alguns. Como diz meu amigo Fábio, "se nossa geração não deixou um Brasil melhor para nossos filhos, deixou
filhos melhores para nosso Brasil".

Contribuo trazendo um pouco de educação financeira aos leitores da Folha, que há mais de sete anos me proporciona essa oportunidade. José vai fazer uma reforma nas
finanças pessoais dele. Pense nisso você também, em 2018 faça mais com menos dinheiro!

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro.

Fonte: coluna jornal FSP

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