EDUCAÇÃO FINANCEIRA: o exemplo educa


EDUCAÇÃO FINANCEIRA: o exemplo educa

Atitude dos pais influencia comportamento dos filhos em relação ao dinheiro

Jaime relata manter um bom controle de seus recursos financeiros. Não utiliza crédito, não parcela compras e nunca usou o rotativo do cartão de crédito ou cheque especial. Seus gastos, realizados sempre e somente com recursos disponíveis, são planejados com antecedência. Apesar de todo esse controle e, provavelmente, em razão dele, nunca privou a si mesmo ou à família de educação e bem-estar, duas de suas prioridades. Entretanto, confessa muita dificuldade na interação com a filha adolescente quando o assunto é dinheiro.

Não são pequenos o esforço e o investimento de Jaime para proporcionar à filha uma das melhores universidades da cidade, convencido de que esse investimento será valioso na carreira e na vida dela.

Definido pela filha como um cara chato e pão-duro, ele não consegue, com o seu exemplo, modelar o comportamento da filha, cujos prazeres e quereres são inesgotáveis. Acontece que os hábitos de consumo da mulher do Jaime são bem diversos dos dele. Raramente conversam sobre o assunto dinheiro e, quando conversam, invariavelmente o papo termina em discussão. Ela trabalha, tem própria renda e acha que pode gastar o dinheiro como bem entender. Com frequência comete excessos e recorre a linhas de crédito para pagar as contas.

É evidente que a filha escolhe o exemplo mais conveniente. Além de entender melhor as vontades e as necessidades femininas, a mãe pega muito mais leve do que o pai e raramente nega alguma coisa para a filha. 

Convenceu a esposa de que deveriam entregar uma mesada para a filha, suficiente para pagar as despesas de transporte e alimentação fora de casa, e um valor excedente que ela deve decidir como e quanto gastar, sem a necessidade de pedir dinheiro para os pais.

O acordo, entretanto, não tem sido respeitado. A filha não se contenta com o dinheiro que tem e pede mais. O pai recusa e argumenta que ela deve esperar a próxima mesada. 

A mãe se rende aos queixumes da filha e libera a grana. Muito pouco se importa com o amanhã —a hipótese de perder o emprego e a renda que hoje patrocina a gastança não passa pela sua cabeça. 

É possível que cometa esses abusos ciente de que o marido, controlado como ele só, vai garantir o sustento da família se alguma coisa der errado. 

Jaime sabe que essa gastança desenfreada, com coisas fúteis, compromete a acumulação de reserva financeira necessária para o futuro. 

Como existe gasto exagerado de um lado, ele aperta o cinto do outro, tentando compensar para fechar o mês no saldo positivo. 

A conta financeira pode fechar, mas a afetiva, a emocional, fica comprometida com esse embate silencioso e prejudicial para a família como um todo. 

Jaime tem consciência de que a reserva financeira para o futuro está crescendo muito pouco, basicamente em razão dos juros da aplicação financeira, já que não tem feito novos aportes. Tem consciência de que a reserva financeira está aquém da desejável. Teme pelo futuro financeiro da família se não conseguir mudar a forma de pensar da esposa e da filha.

Um argumento derradeiro será colocado na mesa: se a filha continuar torrando o dinheiro com a conivência da mãe, vai faltar dinheiro para bancar a sobrevivência dos pais quando a maior idade chegar. E os pais serão dependentes da filha. 

Essa perspectiva assustadora talvez consiga impactar e promover a mudança de comportamento necessária nessa família.
 

 

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'.

Fonte: coluna jornal FSP


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