Pressão Fiscal
Aumenta com Explosão de Concessões do BPC
Nos últimos três
anos, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) destinado a pessoas com
deficiência registrou um aumento expressivo de beneficiários.
O número de
concessões, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
triplicou desde 2020, passando de 100 mil para mais de 300 mil, o que colocou
uma nova pressão sobre o orçamento público em um momento em que o governo
federal enfrenta restrições fiscais e busca o equilíbrio das contas.
Esse crescimento,
impulsionado em grande parte por decisões judiciais, reflete um movimento de
flexibilização nos critérios para acesso ao benefício, que prevê um salário
mínimo mensal a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.
A Lei Orgânica
da Assistência Social (LOAS), que rege o BPC, define que o benefício é
direcionado a quem não tem condições de prover o próprio sustento nem de tê-lo
garantido pela família, desde que a renda familiar per capita não ultrapasse um
quarto do salário mínimo.
Contudo, nos últimos anos, decisões judiciais
ampliaram a margem de acesso, contemplando beneficiários que ultrapassam o
limite de renda, mas que demonstram necessidade financeira, principalmente
devido a despesas médicas e tratamentos de saúde.
Dados do Tribunal
de Contas da União (TCU) e do Ministério da Economia indicam que, em 2023, mais
de 60% das novas concessões de BPC para deficientes ocorreram por meio de
decisões judiciais, enquanto em 2019 esse percentual era de aproximadamente
25%.
Esse crescimento acentuado das concessões judiciais tem exigido uma
adaptação das políticas fiscais, especialmente porque o custo anual do BPC
ultrapassa hoje os R$ 70 bilhões, representando uma fatia significativa dos
gastos assistenciais do país.
O Impacto fiscal e
a urgência de reformas
Para o Ministério
da Economia, o aumento das concessões de BPC, aliado ao crescimento da
população idosa e ao aumento de doenças incapacitantes, pode comprometer o
orçamento público se medidas de contenção e revisão dos critérios de
elegibilidade não forem adotadas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
destacou recentemente que a revisão das regras do BPC é necessária para evitar
um possível desajuste nas contas públicas.
“O programa é essencial para a
proteção social, mas precisamos garantir que ele continue sustentável a longo
prazo”, disse Haddad em uma reunião ministerial.
Uma das
alternativas em estudo pelo governo é a criação de um sistema que leve em
conta, além da renda familiar, fatores como os gastos com saúde e medicamentos,
criando uma avaliação mais abrangente e ajustada à realidade dos solicitantes.
Isso reduziria a necessidade de concessões judiciais, ao mesmo tempo em que
garantiria o benefício aos mais necessitados.
Medidas de
inclusão no mercado de trabalho
Em paralelo, o
governo tem incentivado a entrada dos beneficiários do BPC no mercado de
trabalho formal.
Em 2022, foi criado o auxílio-inclusão, que oferece um valor
de meio salário mínimo para pessoas com deficiência que ingressam no emprego
formal e que, até então, dependiam do BPC.
Esse auxílio, segundo dados do
Ministério da Cidadania, visa reduzir a dependência do benefício e promover a
autonomia dos indivíduos.
Contudo, os números ainda são baixos: apenas 5% dos
beneficiários estão empregados formalmente, o que sinaliza que as barreiras
para a inclusão no mercado de trabalho ainda precisam ser enfrentadas.
Auditorias e
controles para concessões
Em 2022, uma
auditoria conduzida pelo TCU revelou que cerca de 7% das concessões do BPC
apresentavam irregularidades, o que levou à economia de mais de R$ 1 bilhão.
Esses dados reforçam a importância de medidas de controle e auditoria para
reduzir as concessões indevidas e garantir que o benefício chegue a quem
realmente precisa.
O governo tem trabalhado para intensificar essas
fiscalizações, um esforço que, além de evitar fraudes, contribui para a
sustentabilidade financeira do BPC.
Desafios para a
sustentabilidade
O Brasil possui,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
aproximadamente 17,3 milhões de pessoas com deficiência, um número expressivo
que reforça a demanda por uma política de assistência eficaz e sustentável.
Com
o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população, a demanda por
benefícios assistenciais tende a crescer, exigindo que o governo busque
soluções que conciliem a necessidade de amparo social com a responsabilidade
fiscal.
O futuro do BPC e
sua viabilidade financeira são temas que devem permanecer na agenda
governamental. Garantir a continuidade do benefício para as próximas gerações
sem comprometer o orçamento público depende de reformas criteriosas e de um
esforço contínuo de controle e transparência.
A discussão envolve o desafio de,
por um lado, proteger os mais vulneráveis e, por outro, assegurar que o sistema
seja sustentável a longo prazo.
Fonte:
Assistants Consultoria Atuarial