Idiossincrasias adolescentes


Um estudo mostrou que nem todos os adolescentes são insensíveis ao risco; não é possível generalizar.

O comportamento adolescente é produto de um cérebro adolescente, em transformação, que não é mais criança mas ainda está apenas em vias de se tornar adulto. Se adolescentes são, quase que por definição, seres impulsivos e atraídos por riscos, é porque eles devem ter um cérebro também assim.

Eles, de fato, têm --mas só alguns deles, de acordo com um estudo recente feito por pesquisadores na Holanda e nos EUA. A equipe testou o comportamento de crianças, adolescentes e adultos em um jogo no qual os voluntários deviam, de dentro de um aparelho de ressonância magnética, escolher entre continuar ou parar de virar cartas de um baralho cujas cartas dão dinheiro (de verdade!) ou... fazem o jogador perder tudo.

Como o número de cartas "ganhe" (e seus valores) ou "perca tudo" era variável a cada rodada e anunciado previamente, os pesquisadores puderam relacionar o padrão de decisões de cada participante com o índice de risco e de recompensa de cada baralho --e também com o padrão de ativação de estruturas no cérebro que representam expectativas e valores positivos (a recompensa) ou negativos (o risco).

Quanto maior o número de cartas "perca tudo" em um baralho, maior seu risco --e menor deveria ser a probabilidade de o jogador de qualquer idade virar uma carta. Como era de se esperar, os adultos se mostraram altamente sensíveis ao risco. Mas, ao contrário, o grupo insensível ao risco não foram os adolescentes, e sim as crianças, cujas escolhas dependiam simplesmente do valor do prêmio das cartas. Crianças ignoram riscos na hora de tomar decisões --provavelmente, como o estudo mostrou, porque sua ínsula, região do córtex que representa tudo de negativo que riscos envolvem, ainda não dá a mínima para eles.

A ínsula dos adolescentes, contudo, se mostrou em média bem mais sensível a riscos, e até mais sensível do que a dos adultos. Com um cérebro que representa riscos mais intensamente, adolescentes deveriam ser até mais avessos a riscos do que adultos. Por que, em média, não são?

A resposta é que essa média inclui uma enorme diversidade, desde adolescentes com ínsulas altamente sensíveis a riscos, e assim, como se esperava, avessos a riscos, até adolescentes com ínsulas que quase ignoram riscos, como as das crianças. Hora, então, de revisar a generalização: no que concerne riscos, há adolescentes e adolescentes.

Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante)

Fonte: blog www.suzanaherculanohouzel.com
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