Propostas
do governo vão na contramão da justiça tributária.
É preocupante perceber que não há, nas discussões e
propostas já apresentadas para a reforma tributária, um nítido interesse em
recuperar o poder de consumo das famílias. E, a partir daí, reativar a
economia, o emprego e (por que não?) a arrecadação.
Já surgiram as ideias mais estapafúrdias, como sangrar
as microempresas, responsáveis pela renda de milhões de pessoas.
‘Especialistas’ torcem o nariz e criticam os PJs, ou seja, cidadãos e cidadãs
que se tornaram pessoas jurídicas, com CGC além do CPF, porque não têm lugar no
mercado de trabalho.
Como quase ninguém emprega formalmente, com carteira
assinada e direitos trabalhistas, e na informalidade a insegurança e a
instabilidade são diárias, os microempresários empreendem na marra.
Criar mais um imposto, com o retorno da maldita CPMF, não importa como a
disfarcem, seria mais um avanço nos bolsos e contas-correntes de uma classe
média que está em extinção, como as florestas, o ar puro e a água limpa
abundante. Nesta segunda-feira, mais uma ideia foi jogada para ver se cola:
acabar com o desconto de 20% em declaração simplificada do Imposto deRenda, a fim de bancar o Renda Cidadã (programa social que
substituiria o Bolsa Família)
O único foco visível, até agora, tem sido aumentar a arrecadação pública para
continuar jogando dinheiro pela janela, com serviços de péssima qualidade e
sinecuras intocáveis.
Até tungas nos precatórios (dívidas assumidas e não
pagas pelos governos) e no Fundeb (o fundo da educação básica, senhoras e
senhores) já foram aventadas sem que seus proponentes ficassem com as bochechas
vermelhas.
Também pensaram em achatar os benefícios
previdenciários, congelando-os. Ora, milhões de famílias, em locais muito
pobres, só sobrevivem com este dinheirinho.
Todas estas ideias vão na contramão da justiça
tributária. Vão de encontro (chocam-se) ao fortalecimento das compras de
produtos e serviços pelas famílias.
Sem mudar de canal, sem virar o disco, como se dizia bem
antigamente, não haverá consumidor. Ele ficará em um museu virtual ao lado de
uma árvore e de uma onça. Sem consumo, a economia se resumirá às exportações do
agronegócio. Seremos um país ainda mais desigual, com riquíssimos (poucos) e
paupérrimos (quase todos).
Se este for o projeto, parabéns, está indo de vento em
popa! Caso contrário, é melhor deletar as propostas de jerico.
Maria
Inês Dolci - advogada especialista em
direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de
Defesa do Consumidor).
Fonte:
coluna jornal FSP