O futuro pertence às wallets
Carteiras
digitais são capazes de guardar qualquer tipo de ativo e crescem no Brasil.
Ter conta em banco pode se tornar algo obsoleto e sem graça em
um futuro próximo.
A razão principal é que as contas tradicionais de banco são
capazes de guardar praticamente uma única coisa: dinheiro em espécie.
Por isso
tendem a ficar cada vez mais demodês. O futuro pertence às chamadas
"wallets", termo em inglês que significa "carteira".
O nome é bom. Pense em tudo que você guarda na carteira (para
quem ainda usa carteira!): sua identidade, o ingresso para um show no fim de
semana, cartões de crédito, cartões de visita e assim por diante.
Essa é a
característica das wallets digitais: elas são capazes de guardar qualquer tipo
de ativo. Tanto os que a gente carrega hoje na carteira física como infinitos
outros que existem hoje no presente ou poderão ser criados no futuro.
Em outras palavras, uma wallet pode carregar
dinheiro tradicional, pode carregar criptomoedas de qualquer natureza,
títulos e valores mobiliários, notas de crédito e débito, ingressos, passagens
aéreas, debêntures, identidades, certificados, diplomas, NFTs, stablecoins de
qualquer moeda, dados pessoais e assim por diante.
Outra beleza das wallets é que ela torna todos
esses ativos também facilmente circuláveis.
Não vai conseguir ir no show do fim
de semana? Mande o ingresso digitalmente para uma amiga. Precisa dar entrada em
um documento ou assinar um contrato?
Use sua identidade e assinatura digital
armazenada na sua wallet e faça tudo pelo celular sem sair de casa.
O último relatório do "Global Payments
Report" mostrou que as wallets crescem também no Brasil.
De acordo
com o relatório, as carteiras digitais móveis já representam 8% dos pagamentos
em pontos de venda físicos e 16% dos pagamentos no comércio eletrônico.
No entanto, é preciso também qualificar as características das
wallets. Muita gente defende que para que elas seja inovadoras para valer é
importante que sejam descentralizadas e autocustodiadas.
Em outras palavras,
depositar ativos virtuais na conta de alguma instituição não muda muita coisa.
Já custodiar os ativos você mesmo muda tudo. No primeiro caso, se a instituição
falir, você perde tudo.
Já se eles estiverem sendo autocustodiados na sua
wallet, você não perde nada (os ativos, seja dinheiro, ingressos ou
criptomoedas, estão sob seu total controle).
Inclusive a Fundação Linux criou a importante iniciativa chamada
"Open Wallet Foundation".
Seu objetivo é criar e manter código livre,
aberto, seguro e gratuito para que qualquer pessoa possa criar e gerir sua
própria carteira digital.
Isso abre uma oportunidade gigantesca para os bancos
e outras instituições: podem se tornar também custodiantes das credenciais de
acesso que as pessoas têm sobre suas carteiras digitais descentralizadas,
cuidando da segurança delas.
Quando as
wallets crescerem, a mercadoria que vai se tornar mais valiosa será a
confiança.
O surgimento de agentes de confiança que protegem os detentores das
wallets sem necessariamente custodiarem seus ativos será promissor. Esse modelo
pode se tornar realmente revolucionário.
Imagine, por exemplo, que seus dados
pessoais possam ser um dos ativos da sua wallet. Você poderá fazer a gestão
deles diretamente (e ser pago em dinheiro por seu uso se quiser).
Talvez 2023
seja um ano em que muita gente vá baixar e experimentar com o potencial das
wallets pela primeira vez.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro.