Supermercado de produtos financeiros


Em um banco, assim como no supermercado, é você quem escolhe o que precisa e vai comprar.

Os bancos não gozam de boa fama. Juros altos, taxas elevadas, venda de produtos goela abaixo, filas, débitos sem autorização do cliente são exemplos de reclamações frequentes. A relação entre instituições financeiras e clientes é complexa e delicada, e, quando uma transação não termina bem, ambas as partes devem avaliar sua responsabilidade, procurando entender o que poderiam ter feito diferente e melhor.

BANCO
O banco pode ser comparado a um grande supermercado, com uma oferta gigantesca de produtos e serviços financeiros. São tantos que, se a oferta não for organizada e apresentada sob a ótica do cliente, pode induzi-lo a erro, a uma decisão equivocada. Os bancos precisam aprender a oferecer o produto com o chapéu do cliente na cabeça, pensando mais no cliente, menos no produto.

CLIENTE
O cliente precisa entender que é dele o poder de escolher e decidir se quer ou não determinado produto ou serviço financeiro. Dá trabalho, muita pesquisa deve ser feita antes da decisão de compra. A responsabilidade da escolha é do cliente, e não do gerente.

O vendedor nem sempre adota a abordagem comercial mais adequada. Compete a você perguntar, explorar, pesquisar e comprar somente quando entender o que o produto ou serviço faz por você, qual o benefício proporcionado, se você precisa dele e se o preço é justo.

EXEMPLO
Certa ocasião, decidida a trocar de carro, pesquisei o mercado. O atendente de uma concessionária me apresentou dois modelos do mesmo veículo. Quando perguntei por que eu deveria pagar mais pelo modelo X, ele respondeu: "Porque tem freios ABS". Não contente com a resposta, perguntei por que freios ABS. Ele respondeu: "ABS é um sistema de freios antitravamento, sensores monitoram a velocidade das rodas, identificam se alguma delas está prestes a travar e aliviam a pressão para evitar o bloqueio".

A linguagem usada pelo vendedor era técnica, pouco adequada para despertar meu interesse. E o discurso continua: "O sistema eletrônico permite manter o controle do veículo ao desviar de um obstáculo. Os freios comuns podem não funcionar em uma freada brusca e ocasionar uma colisão".

Eu sabia qual era o benefício do sistema de freios, mas o vendedor, preocupado apenas em ressaltar suas características, deixou de mencionar emoções e sentimentos que, muitas vezes, determinam a decisão de compra.

Então, eu disse a ele: "O senhor está tentando dizer que um carro com freios ABS é mais seguro? Que um acidente pode ser evitado graças a esse sistema de freios? Que as crianças, a família, estarão mais seguras quando transportadas em um veículo com esse sistema?".

Esse é o argumento que faltava, capaz de induzir o consumidor a comprar e, talvez, pagar mais por um produto ou serviço: segurança, conforto, bem-estar, proteção, amor, confiança. Em outro contexto, o gatilho da decisão do consumidor é poder, status, vaidade, ganância.

OFERTA
A oferta de produtos e serviços financeiros é muito grande, mas se resume a quatro grandes famílias: Crédito, Investimentos, Serviços e Produtos Não Bancários.

Simplificadamente, a família de Crédito oferece dinheiro para sua necessidade de caixa e realizar seus projetos de vida.

A família de Investimentos oferece produtos para você acumular e rentabilizar seu dinheiro.

Serviços, como pagamentos e recebimentos, oferecem conveniência.

Os Produtos Não Bancários, tais como seguros e previdência, são comercializados por empresas coligadas, e cada um oferece uma solução que, talvez, seja útil para você.

Como em um supermercado, pesquise preços, conheça a oferta e escolha pensando como este ou aquele produto ou serviço atende (ou não) uma necessidade sua, o que ele faz por você. Se não representa solução nem gera benefício, você não precisa dele.

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro" (Trevisan Editora, 2014).

Fonte: coluna semanal no jornal Folha de São Paulo
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