Neste último fim de semana, li no UOL algo que me
interessou: "Veto de crianças em casamento é moda, mas pode pegar mal para
noivos". Ao ler a reportagem, fiquei sabendo que muitos noivos não querem
a presença de crianças na cerimônia de seu casamento e que deixam isso muito
claro no convite.
Imediatamente eu me lembrei de uma cerimônia de
casamento à qual compareci, com convidados de todas as idades: bebês de colo,
crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos. O que me chamou a atenção
nessa celebração não foi só a presença de todas as gerações, mas também o
relacionamento entre todos.
Fiquei agradavelmente surpresa ao ver que, quando
os noivos convidaram os presentes a acompanhá-los em uma dança, jovens dançaram
com velhos, adultos com crianças, e adolescentes com crianças pequenas. Minha
agradável surpresa teve um motivo: não têm sido comuns situações de
relacionamentos sociais entre todas as idades, não é?
Ao ler a reportagem citada, não fiquei surpresa.
Faz tempo que temos tido dificuldade de estabelecer e manter relacionamentos
intergeracionais e que temos retirado de situações públicas as crianças e os
velhos, principalmente. Temos, portanto, um bom convite à reflexão sobre o
estilo de vida que temos adotado.
Criança atrapalha a vida dos adultos, dá trabalho,
exige atenção e cuidado constantes, enfim, ocupa muito o adulto que, dessa
maneira, se vê privado de tomar a si próprio como prioridade. É por isso que
alguns restaurantes, hotéis, empresas e, agora, festas de casamento, têm vetado
a presença de crianças. Nós, os adultos, não queremos que elas nos incomodem em
nossa diversão, em nosso lazer, em nosso trabalho.
O fato é que perdemos a mão de como nos relacionar
com pessoas de idades distantes da nossa. E são principalmente as duas pontas
geracionais –crianças e velhos– os mais prejudicados, os que só conseguem se
relacionar com seus pares de idade.
Em festas de crianças, só elas são convidadas; os
poucos adultos presentes, em geral, são contratados para entreter e propor
diversos tipos de recreações a elas.
As famílias enfrentam dificuldades de convivência
devido, em parte, a essa nossa dificuldade de relacionamento intergeracional.
Muitos pais não conseguem ensinar aos filhos de idades diferentes a convivência
respeitosa e amigável entre eles.
Empresas também enfrentam o desafio de formar
equipes de trabalho com a presença de colegas com idades distantes: os mais
velhos não compreendem os mais jovens e os criticam, e estes não sabem muito
bem como integrar-se com os mais experientes e mais velhos do que eles em uma
mesma tarefa.
Fica bem mais difícil viver dessa maneira, segregados
em grupos etários. Por isso, podemos e precisamos mudar algumas de nossas
concepções sobre a vida.
Primeiramente, é preciso lembrar: todos fomos crianças, e todos seremos velhos.
As crianças não devem ser apenas responsabilidade
dos pais quando presentes em reuniões sociais ou em espaços públicos: é
responsabilidade de todos os adultos cuidar delas, relacionar-se com elas. Elas
são a garantia do futuro da humanidade.
Finalmente: o relacionamento entre pessoas com
idades diferentes é enriquecedor para todos os envolvidos. Criança não dá
trabalho, apenas: criança é vida!
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar.