Os
telejornais são um dos formatos jornalísticos que mais perderam densidade
noticiosa com a popularização da internet. São raros os casos em que
conseguem apresentar alguma notícia inédita, usam uma narrativa linear que
mantém a mesma estrutura do jornal impresso, os apresentadores oscilam entre o
formalismo e o estilo camelô de notícias; e os repórteres agarram-se à
ultrapassada fórmula do stand-up.
As
mudanças registradas nos telejornais brasileiros nos últimos anos limitam-se a
trocar apresentadores, mudar o cenário e introduzir novos equipamentos
eletrônicos. Nenhuma alteração significativa, por pequena que seja, foi
feita no conteúdo noticioso, que ainda mantém o viés do ineditismo, embora a
maioria dos fatos já tenha sido amplamente divulgada, inclusive pela própria
televisão em boletins informativos.
Não é
necessário ser um especialista em telejornais para apontar três áreas onde a
necessidade de uma reinvenção das práticas usuais é mais urgente:
1.
Acabar com o formalismo dos âncoras e introduzir um formato coloquial na
apresentação do noticiário. Coloquial significa conversa, ou seja, um estilo
onde é importante transmitir a sensação de que o locutor não é hierarquicamente
superior ou está num plano mais elevado que o telespectador. A internet abriu a
possibilidade de uma comunicação em mão dupla entre o jornalista e o público. A
televisão não é internet, porque não oferece as mesmas facilidades para
interação, mas apesar disso não pode ignorar que o público passou a ter novas
expectativas em matéria de envolvimento no noticiário.
2. O uso
exaustivo de stand-ups, o jargão para a participação de repórteres
na apresentação de notícias fora do estúdio, é talvez o mais ultrapassado de
todos os recursos para valorizar uma reportagem em vídeo. A quase totalidade
das introduções ou passagens com repórter em reportagens na TV é feita em
ambientes que nada acrescentam em termos de informação. São um gasto absurdo de
dinheiro e tempo. Os repórteres acabam dedicando mais tempo para escolher o
lugar e fazer o stand-up do que procurando fatos, números e depoimentos.
Se não fosse por vaidade ou marketing para mostrar poderio financeiro, 95% dos stand-ups
poderiam ser eliminados sem perda alguma no conteúdo da notícia. Alguns
correspondentes estrangeiros narram de Buenos Aires, um evento ocorrido na
Venezuela. A preocupação em editorializar acaba atropelando a procura de um
efeito testemunhal, a justificativa básica para manter um profissional no
exterior.
3. Os
telejornais, inclusive os norte-americanos e europeus, continuam ignorando olimpicamente
a convergência de plataformas viabilizada pela alternativa multimídia da
internet. E televisão é uma das plataformas. Tem vantagens e desvantagens em
relação a outros canais. Gera mais envolvimento sensorial dos telespectadores
com as notícias, mas perde longe para a mídia impressa em matéria de facilidade
de compreensão em temas complexos ou abstratos. Até agora havia uma
concorrência entre as plataformas impressas (textuais) e audiovisuais (imagens
e sons). A internet permitiu que ambas pudessem convergir e ao mesmo tempo
incorporar a interatividade em tempo real com o público. É inevitável o
surgimento de pressões do público na direção da convergência porque é muito
mais fácil recorrer à pàgina Web do noticiário em caso de dúvida, para obter mais
detalhes, para consultar especialistas ou trocar ideas com outros
telespectadores, ou ainda fazer compras online.
A defasagem
editorial dos telejornais em relação às necessidades e expectativas
informativas do público acabou por reduzir sua relevância como fonte de
notícias e ampliar o seu papel no enquadramento político e publicitário dos
números, fatos e eventos noticiados. O viés político passou a ser mais visível
do que o caráter jornalístico, o que acaba gerando frustração no telespectador
e desvirtua a função de apresentadores, editores, produtores e repórteres.
Os
telejornais do início da noite não ocupam mais aquele espaço mágico em que as
pessoas paravam para saber o que aconteceu no mundo nas últimas 24 horas.
Assisti-los ganhou mais características de hábito rotineiro do que de uma
necessidade. Esta mudança de atitudes tornou os telespectadores mais
críticos ou mais indiferentes. Ambas as posturas são pouco interessantes
para uma emissora porque não ampliam a credibilidade no telejornal, o que no
fundo não é um bom negócio, no sentido estrito.
Carlos
Castilho – jornalista, professor, autor.
Fonte: site Observatório da Imprensa