O
universo digital já é tão vasto quanto o real e continua se expandindo. Estudo
da EMC, empresa líder do mercado internacional de armazenamento de dados,
divulgado ontem [quarta-feira, 9/4], revela que já
existem disponíveis hoje no mundo quase 1 septilhão de bits de informação — ou
o número 1 seguido de 24 zeros, total similar ao de estrelas conhecidas no céu,
segundo a Agência Espacial Europeia. A estimativa é que, até 2020, o número de
dados armazenados em computadores, servidores, celulares, smartphones
e tablets seja, no mínimo, multiplicado por seis; um volume
tão gigantesco, que os especialistas passaram a medi-lo em termos de distância
da Terra à Lua.
Hoje,
as informações disponíveis em formato digital equivaleriam a uma pilha de iPads
Air (os mais finos) de, nada menos, que 256 mil quilômetros, ou dois terços da
distância do nosso planeta até o seu satélite. No fim da década, no entanto,
seriam seis pilhas e meia: 1,6 milhão de quilômetros. Se todas essas informações
fossem divididas pela população conectada em 2020, haveria quase 6 mil
gigabytes de carga por pessoa.
Uma
família comum hoje preenche com informações 65 iPhones de 32 GB por ano; daqui
a seis anos, preencherá 318 smartphones. E quem trabalha com
tecnologia – os chamados profissionais de TI – já tem um pesado fardo sobre
seus ombros, lidando hoje com aproximadamente 230 GB de dados. Em 2020, a carga
da turma especializada em tech será de 1.200 GB.
Cérebro em apuros?
Até
onde se sabe, do ponto de vista biológico, o cérebro humano, que há até bem
pouco tempo lidava com muito menos informação diariamente, não sofreu nenhuma
alteração evolutiva para se adaptar a tamanho volume. “Não há nenhuma evidência
de alteração biológica”, garante o neurocientista Roberto Lent, diretor do
Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Tampouco
há indícios de que ele esteja em apuros para lidar com tanto conhecimento. Em
princípio, o cérebro não tem um limite para a quantidade de informação
absorvida. Mas, lembram os especialistas, há alguns limitadores. “O mais
importante deles é que o cérebro presta atenção a uma coisa de cada vez. Não
importa se estamos falando de uma pessoa do passado ou dos dias de hoje: por
definição, sempre há mais informação disponível no ambiente do que nossa
capacidade de assimilá-la”, explica a neurocientista Suzana Herculano-Houzel,
do mesmo instituto.
As
estratégias desenvolvidas para lidar com tantas fontes de informação
simultâneas, no entanto, foram alteradas, e são, atualmente, muito mais ricas e
elaboradas. “Essa é a História da Humanidade e do desenvolvimento tecnológico”,
compara Suzana. “Não só assimilamos mais conhecimento ao longo da História, mas
o transmitimos, vamos aprendendo a fazer coisas cada vez mais complexas:
transformamos informações, relacionamos dados, chegamos a novas conclusões.
Então, sim, uma criança de hoje pode ter o mesmo tipo de conhecimento de um
sábio do passado, mas isso é consequência da boa transmissão cultural, da forma
como as coisas foram elaboradas; não necessariamente da biologia do cérebro.”
E, de
fato, os dados continuarão crescendo numa proporção espantosa, de acordo com o
estudo divulgado ontem. O maior desafio no ciberuniverso que, a exemplo do
universo físico, continua a se expandir é a chegada da internet das coisas
(IoT, na sigla em inglês) à cena. A conexão de objetos, de relógios a carros,
passando por brinquedos e utensílios, que hoje não passa de 187 bilhões,
chegará a 212 bilhões até o fim da década. “A internet das coisas aumenta o
desafio de transformar tudo isso em conhecimento”, diz Karin Breitman,
executiva líder do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Big Data da EMC.
“Aparecem dados de vários dispositivos, como o recente Amazon Dash” (leitor de
código de barras dublê de microfone, ligado ao serviço de entregas Amazon
Fresh, que lê os códigos de produtos que estão acabando em casa e os envia
automaticamente à Amazon para reposição).
Falta de espaço
E se
o armazenamento de dados em diferentes dispositivos facilita a vida de quem
precisa dispor de muitos deles ao mesmo tempo e não pode contar apenas com o
próprio cérebro, ele está criando uma nova dor de cabeça para os especialistas
da área.
Vice-presidente
da EMC, Vernon Turner lembra que os servidores e data centers terão que se
aperfeiçoar cada vez mais no futuro para armazenar tanta coisa. O estudo
divulgado pela sua empresa sustenta que hoje os dados já ultrapassam a
capacidade de armazenamento disponível. Só não acontece uma “inundação” porque
a maioria das informações geradas no mundo é de caráter temporário (como as de
games ou de interação com sites tipo Netflix). Mas, se tudo fosse arquivado, só
33% do total atual caberiam. Por isso os especialistas em compressão de dados
terão que rebolar até 2020, ou esse gap ficará mais dramático, diz o
estudo. “Acessar imediatamente os dados, hoje, é fundamental em certos setores,
como nas bolsas de valores”, pontua Victor Arnaud, diretor da empresa Alog,
especializada em armazenamento.
No
avanço dos bits, os mercados emergentes vão ultrapassar os países ricos nos
próximos anos. Hoje estes são responsáveis por 60% do universo, mas blocos como
os Brics tendem a tomar esse lugar até o fim da década. O Brasil, no entanto,
vai devagar – representará este ano 3% do volume de dados digitais no mundo.
Parece
bem pouco comparado ao volume de informações do mundo. Mas, voltando à
comparação espacial, até o fim do ano passado, o país produziu, em dados, uma
pilha de tablets equivalente a 2% do percurso até a Lua. Em 2020, a
pilha chegará a 25% do trajeto (ou 96 mil quilômetros).
André
Machado e Roberta Jansen – jornalistas
Fonte:
site do Globo.com