As memórias podem ser desencadeadas por experiências sensoriais:
o som de uma determinada canção, o aroma de um prato que sua avó costumava
fazer e fotos de momentos passados com a família e amigos.
Mas há uma diferença entre as
imagens que guardamos em nossas mentes, que incluem o contexto e a
interpretação de uma situação, e as capturadas por uma câmera, que não fazem
isso. E estas, sugere uma pesquisa, moldam cada vez mais o que lembramos.
Um estudo realizado por Linda
Henkel, professora de psicologia na Universidade Fairfield em Connecticut,
examinou esse "efeito prejudicial de tirar fotos".
Os participantes do estudo
foram instruídos a fotografar certas obras de arte durante uma visita guiada a
um museu e a simplesmente observar outras. Resultado: os participantes
lembravam menos detalhes das obras que tinham fotografado, "pois
efetivamente terceirizavam sua memória para a câmera", escreveu Teddy
Wayne no jornal "The News York Times".
Além de afetar quais memórias
retemos, as imagens também parecem definir o modo como nos lembramos das
coisas, sugeriu Henkel. "Há uma perspectiva do 'observador', de terceira
pessoa, contra uma 'perspectiva de campo' através de nossos próprios
olhos", disse ela. "As fotos parecem nos levar àquela perspectiva do
observador, distanciando-nos de certa maneira, por isso é claramente uma
memória reconstruída."
Isso também se torna
generalizado com o uso cada vez maior dos smartphones: estima-se que 80% dos
adultos no mundo possuirão smartphones em 2020.
Além de nossas lembranças individuais,
as imagens também podem afetar nossa memória coletiva.
Considere alguns dos
indicados deste ano ao Oscar de melhor filme que se baseiam em fatos da vida
real: "Selma", "Sniper Americano", "O Jogo da
Imitação" e "A Teoria de Tudo" -todos eles criticados por
alterarem a verdade. "Você poderia pensar: isso realmente importa? Não
podemos manter o mundo do cinema separado do mundo real?", escreveu
Jeffrey M. Zacks, professor de psicologia e radiologia na Universidade de
Washington em St. Louis, Missouri. "Infelizmente, a resposta é não."
Um motivo, segundo ele, é que
nossas mentes são boas para lembrar o que vemos ou ouvimos, mas não para
lembrar a fonte da informação. Por isso, quando os sujeitos da pesquisa foram
solicitados a ler ensaios factuais sobre um fato histórico e depois a assistir
a um filme com imprecisões sobre o assunto, "os estudantes reproduziram
cerca de um terço dos fatos falsos dos filmes em uma prova posterior",
escreveu Zacks. Foi o que aconteceu também em um estudo em que os participantes
foram solicitados explicitamente a buscar imprecisões nos vídeos.
Isso não quer dizer que nossa
memória coletiva esteja se aprofundando, entretanto. Pelo contrário, os antigos
15 minutos de fama hoje são mais parecidos com "15 segundos de nanofama",
graças ao número aparentemente infinito de vídeos que circulam on-line e sua
crescente brevidade. "Conforme a mídia diminui, a fama também",
escreveu Alex Williams.
Essa nanofama criada pelo
"submundo da internet da maravilha em um clique, famoso durante um piscar
de olhos" nos deu coisas como Jeremy Meeks ("o belo prisioneiro
transformado em sensação na internet"), Alex da Target ("o caixa
bonitinho do Texas que se tornou astro no Twitter") e o Tubarão da
Esquerda ("o dançarino de Katy Perry vestido de peixe no show no Super
Bowl, que se tornou uma sensação na mídia social").
Então, é claro, essa
notoriedade de curta duração talvez não seja totalmente ruim. Se uma imagem é
dolorosa de suportar, pelo menos não vai durar muito.
Tess Felder – jornalista do New York Times