Fácil falar, difícil fazer


Quantas vezes você já ouviu o conselho de que devemos comprar quando está barato e vender quando está caro? Fácil falar, difícil fazer. Quando os preços caem muito, fazemos exatamente o contrário do que a teoria recomenda; vendemos antes que os preços caiam ainda mais e o prejuízo aumente.

Essa decisão não tem nada de racional. A emoção domina, e tudo o que queremos é cair fora, irmos para um lugar mais seguro, em busca de proteção.

Curioso que, quando tomamos a decisão de comprar, sabíamos que estávamos entrando em um mercado de risco, que os preços iriam oscilar, que a rentabilidade esperada, superior à oferecida nos mercados mais seguros, não era certa, que o percurso seria turbulento, e o tempo, longo. Apesar de todos os obstáculos anunciados, embarcamos, confiantes de que faríamos, ilesos, a travessia.

Perante o acontecimento desfavorável que pressiona e provoca a queda de preços, a lembrança de episódios passados, que provocaram grandes perdas, domina nossa mente. Passamos a acreditar no infortúnio, mesmo longínquo e com baixa probabilidade de ocorrer novamente.

Os estudiosos e os pesquisadores das finanças comportamentais, um ramo da psicologia econômica, nos ajudam a entender por que as pessoas tomam decisões irracionais, aparentemente ilógicas.

EFEITO MANADA

Comprar dólar depois que o preço subiu, só porque tá todo o mundo comprando? Efeito manada. Você não quer ser o único a ficar fora da festa. Eles devem saber de alguma coisa que você ainda não sabe... não é possível que tanta gente esteja do lado errado do mercado.

Se a decisão de comprar se revelar errada, você não terá feito isso sozinho. A responsabilidade da decisão equivocada será compartilhada com muita gente. Melhor do que ser o único na contramão...

DISPONIBILIDADE

Outro comportamento típico, denominado "viés da disponibilidade", explica quando um acontecimento importante permanece cognitivamente disponível na nossa mente, ampliando nossa crença na probabilidade de o fato acontecer novamente.

O fantasma da inflação, dominada durante muitos anos, voltou. O governo precisa tomar medidas para assumir o controle novamente, fazer a economia crescer sem impactar os preços, trazer a inflação de volta ao patamar de onde não deveria ter saído. Fácil falar, difícil fazer.

A crise e o contexto atuais são muito diferentes do que vivenciamos em 1990, quando o governo tomou a decisão inusitada e desastrosa de confiscar o dinheiro dos brasileiros em uma tentativa desesperada de controlar a inflação. Muitas das vítimas desse confisco, apesar de distante e da baixíssima probabilidade de acontecer, temem a possibilidade de passar por isso novamente.

AVERSÃO A PERDAS

Talvez o comportamento mais comum, vivenciado pela grande maioria das pessoas que investe no mercado financeiro, seja o viés conhecido como "aversão a perdas". Os estudos comprovam que preferimos evitar perdas a esperar por ganhos, independentemente da probabilidade de ocorrer. A dor da perda supera o prazer do ganho e explica por que vendemos quando o preço cai, quando deveríamos fazer o movimento contrário, comprar, aproveitando preços mais baixos.

EFEITO DISPOSIÇÃO

Que ações você mantém na sua carteira, as vencedoras ou as perdedoras? Vários estudos empíricos comprovam nossa tendência de vender ações vencedoras para realizar ganhos rápidos. As ações perdedoras são mantidas por muito tempo. Esse é o "efeito disposição", comumente atribuído a ilusões cognitivas do cérebro humano.

Identificou-se como personagem dessas histórias? Seja bem-vindo, não tem nada de errado com você! A psicologia econômica, que explora nossa experiência de perceber, avaliar e estimar probabilidade, com o intuito de escolher o que melhor nos parece, explica. 

Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal, diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro" (Trevisan Editora, 2014)

Fonte: coluna no jornal FSP

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