Em tempos de desemprego alto, é preciso muito cuidado para o
dinheiro da indenização trabalhista não "virar fumaça".
Quero falar sobre um assunto que esteve bastante presente ao
longo de 2016: desemprego.
Ao longo do ano passado (e no começo deste ano), tenho observado
duas coisas: Uma delas é um grande número de novos negócios abrindo (pelo menos
na região em que eu moro). São negócios “menos sofisticados”, que poderíamos
classificar como ”comércio de bairro”. Coisas como salões de beleza, academias
de ginástica, lojas de bolos caseiros e coisas do gênero.
A segunda é uma procura renovada por cursos de investimentos em
renda variável, com foco especial naqueles que são voltados para a geração de
renda. O pessoal que quer virar “trader” e transformar o próprio patrimônio em
um negócio… Eu, como professor na bolsa de valores e “membro militante” da
educação financeira, consigo ver claramente a transformação – até uns poucos
anos, cursos voltados para o segmento de renda variável estavam “às moscas”.
Agora, as turmas estão lotadas.
Aumento na atividade empreendedora e no mercado de renda
variável é “quase sempre” algo positivo, mas eu receio estar vendo algo que já
vi no passado (ao menos no que diz respeito à criação de novos negócios com o
perfil que descrevi): Dinheiro de indenização trabalhista entrando no mercado…
O desemprego voltou com tudo e está, agora, pegando aqueles
profissionais qualificados e com um histórico de estabilidade em seus empregos.
Gente que ganha bons salários e que, ao perder o emprego, acaba saindo com uma
“grana boa”, frequentemente na casa de centenas de milhares de reais.
Aí surge a dúvida: “O que fazer com esse dinheiro?”. Muitas
pessoas, ao sentirem que a recolocação profissional não será tão fácil (ou
mesmo que ela será inviável, ao menos em condições similares ao “status”
perdido), partem para o caminho do empreendedorismo. Mas não é um
empreendedorismo planejado e movido por uma legítima vontade de empreender (e
um gosto pelo risco), e sim uma tentativa de “comprar um emprego”. No caso das
pessoas que buscam o caminho do mercado financeiro, eu mencionei, num programa
recente, a questão do “grupo de risco” que se aventura nas operações de curto
prazo em bolsa de valores (explorarei este assunto em breve aqui no blog).
Se o padrão estiver consistente com aquilo que já vi no passado,
a má notícia é que grande parte dessas iniciativas vai naufragar, e muitos
patrimônios, que levaram anos (ou décadas) para serem construídos, se perderão.
Momentos de crise (que envolvem perda de renda) acabam levando pessoas a tomar
decisões precipitadas que podem conduzir a um único caminho: destruição de
valor.
Se você está nesta situação (ou sente que estará em breve), faça
o que estiver ao seu alcance para proteger o seu capital. Cuidado com a imagem
distorcida do empreendedorismo como forma de te “criar um emprego” e cuidado
com a ilusão de “tirar um salário do mercado financeiro”. Nunca é demais
lembrar que a economia se movimenta em ciclos. Quando estávamos no final dos
anos 80 (e começo dos 90), parecia o fim do mundo (ao menos no que diz respeito
ao emprego).
Então, lembre-se que a reserva financeira serve, antes de
qualquer coisa, para dar um “fôlego” nesses momentos de transição. E se optar
por partir para algo de linha mais empreendedora, enquanto uma nova
oportunidade não surge, considere sempre aqueles modelos de negócio que não
envolvam capital intensivo – aqueles que demandam mais tempo (o que uma pessoa
que perdeu o emprego tem, em tese, de sobra) e menos dinheiro (que precisa ser
defendido de todas as formas).
André
Massaro - Escritor, palestrante, consultor financeiro