Tendência ou mais do mesmo
Convidado
da ABMEN para um debate sobre o hype/buzz, em que o tema ESG gerou recentemente
no Brasil, com a pergunta: ESG é tendência ou mais do mesmo?
Nesse sentido,
procuramos esclarecer inicialmente a definição e origem do termo ESG, onde foi
definido como: acrônimo em inglês para Environmental, Social e corporate
Governance, amplamente utilizado no mundo dos investimentos para se referir
a aspectos não financeiros da gestão empresarial.
Origem do ESG
- Há pelo menos 50 anos,
já existia a preocupação com investimento em negócios sustentáveis.
- Na metade da década de 1970,
surgiu a sigla SRI, que, em uma tradução para o português, quer dizer
investimento sustentável responsável.
- A partir dessa época,
fatores sociais passaram a contar cada vez mais na hora de escolher qual
corporação merecia receber aporte financeiro de investidores.
- Empresas que apoiavam a
política do apartheid na África do Sul ou financiavam a Guerra do Vietnã,
por exemplo, passaram a ter seus pedidos de investimento negados em razão
das causas que defendiam.
- Aos poucos, essas
preocupações foram se expandindo, focando também nos impactos ambientais, entre outros critérios
de responsabilidade corporativa das organizações.
- A sigla ESG, no entanto, só
foi aparecer de fato no presente século, mais precisamente em 2005, com o
relatório “Who cares wins” (“Ganha quem se importa”), redigido
pela Organização das Nações Unidas (ONU).
- A iniciativa reuniu 20
instituições financeiras de diferentes países, inclusive o Brasil, para
definir diretrizes a respeito da inclusão de temas ambientais,
sociais e de governança no gerenciamento de fundos e pesquisas com relação
a esses assuntos.
- Decidiu-se então que a
inclusão dessas avaliações no mercado financeiro era benéfica não apenas
para as empresas e os investidores, mas também para a sociedade como um
todo.
Porque é uma tendência
Houve questionamentos no debate, sobre: porque as bolsas de
valores e seus investidores estariam ditando as regras sobre
questões ambientais e sociais, quando apresentam os critérios que são
considerados na avaliação das empresas nestes dois pontos além da governança
corporativa.
Foi quando esclareceu-se que as bolsas, simplesmente estão
respondendo à demandas da sociedade sobre estes temas e as megatendências.
Lembrando aqui que: megatendências vêm mudando a forma
como vivemos há séculos, pois são forças poderosas e transformadoras que podem
mudar a economia, os negócios e a sociedade global. Pense em eletricidade,
automóvel, Internet.
Atualmente temos como megatendências: mudanças climáticas
e escassez de recursos; demografia e mudança social; avanço tecnológico;
urbanização rápida; e mudança de poder econômico.
Que as demais tendências
costumam ser derivadas de tais megatendências, e que ESG está conectada a elas.
Além disso, foi observado que o ESG ganhou muita força nos
últimos anos e tem origem em dois movimentos separados, que se convergem
cada vez mais.
- O primeiro é o accountability. Cada vez mais,
as pessoas estão interessadas em conhecer o impacto que as empresas têm
sobre seus colaboradores, clientes, suas comunidades e sobre o meio
ambiente. Portanto, continuamente tentamos quantificar estas estruturas em
métricas, as quais agora possuem novas categorias como o social, o
ambiental e os aspectos da governança.
- De outro lado,
temos o movimento do business
valuation com o argumento de que as métricas que o
mercado tem hoje não conseguem capturar todo o desempenho e valor da
empresa, pois não conseguem capturar aspectos intangíveis, tais como
capital intelectual, social e humano do negócio. As métricas de ESG podem
indicar como mensurar este capital.
Vale lembrar que, a nova economia do século 21 (que engloba economia criativa, economia colaborativa,
economia compartilhada, economia multivalores, economia circular e economia
digital) está alinhada com novos objetivos de preservação
ambiental e os sociais como os da diversidade.
Além disso movimentos como
os das Empresas B, Capitalimo Consciente e um olhar corporativo maior para os stakeholders, também contempla tais
princípios e valores que que a ESG contempla.
Alguns números
Segundo relatório da PwC, até 2025, 57% dos ativos de fundos
mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os critérios ESG, o que
representa US$ 8,9 trilhões, em relação a 15,1% no fim do ano anterior.
Além
disso, 77% dos investidores institucionais pesquisados pela PwC disseram que
planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos.
Ou seja,
uma forma consciente de investir, que tem origem nas gerações mileniuns e
Z, pois muitos jovens já demonstram essa atitude.
No Brasil, fundos ESG captaram R$ 2,5 bilhões em 2020. Este
levantamento foi feito pela Morningstar e pela Capital Reset. Levantamento
anual feito pela Deloitte e pelo Instituto Brasileiro de Relações com
Investidores (IBRI), em 2021, mostrou que 74% das empresas com ações em Bolsa
planejam aumentar o orçamento destinado a ESG em 2022.
ESG na B3 - Como parte de sua
estratégia de ampliação do portfólio de índices ESG, a B3 lançou, em setembro
de 2020, em parceria com a S&P Dow Jones, índice S&P/B3 Brasil ESG, que
utiliza critérios
baseados em práticas ambientais, sociais e de governança para selecionar
empresas brasileiras para sua carteira.
Entre os critérios está a
aderência aos Dez Princípios do Pacto Global na área de Direitos Humanos,
Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Neste sentido, além dos Dez Princípios do Pacto Global, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável servem
de guias para que as empresas analisem se suas práticas ESG estão alinhadas aos
padrões internacionais e referência.
ESG no BlackRock - A maior gestora da
ativos do mundo, a BlackRock, com mais de US$ 6 trilhões em carteira, passou a
incluir em 2020 métricas ESG, transversalmente, em todas as suas análises de
riscos.
Considerações finais
De uma forma geral, algumas visões pessimistas e outras um tanto
otimistas, chegaram à conclusão de que não importa se a sigla ESG está atrelada
ao mercado financeiro ou se muitas empresas estão fazendo greenwashing, ou seja, uma "maquiagem
verde".
O que importa são os princípios e valores que cabem a todos nós
seguir, fazendo tanto a diferença tanto como indivíduo, como em grupo na
transformação necessária, que envolve menos consumismo e mais ação, buscando a
todos qualidade de vida, bem estar social e preservação ambiental.