Será bom ensinar aos filhos que um comportamento pode ser comprado?


Recebi uma longa mensagem de uma leitora e o assunto que ela pede para conversarmos pode interessar a muitas famílias. Ela contou que o marido e ela perderam o emprego nesta crise. Ele, porém, conseguiu retornar ao mercado rapidamente, mas recebendo honorários bem mais baixos do que antes.

Ela aproveitou a oportunidade para pensar nos filhos e decidiu entrar em um empreendimento com três amigas para trabalhar em casa, mais próxima deles, que têm 9 e 11 anos. Ela disse que o negócio está caminhando, mas que por um tempo vai receber pouco.

Ela acha que os filhos já têm idade para entender o que é crise econômica e participar da mudança de orçamento da família e, para tanto, realizou algumas mudanças na vida deles.

Uma delas foi suspender a mesada, que eles usavam para comprar o que gostam de comer na lanchonete da escola, e instituiu valores para que eles recebam quando realizam pequenos trabalhos domésticos. Conversou com eles e explicou que isso é para que aprendam como é difícil para os pais ganhar dinheiro. Também informou que eles passarão um tempo sem viajar, receber presentes e comprar coisas desnecessárias.

Mas –e aí é que está a questão dela– parece que os filhos não se importaram em ficar sem dinheiro, porque, até agora, nenhum dos dois realizou qualquer tarefa em casa.

Primeiramente, vamos falar da mesada que os pais dão aos filhos. Esse é um bom recurso para usar com crianças que já frequentam o ensino fundamental, mas só funciona se o valor que receberem for para ser aplicado em algo que eles realmente precisam. Se as crianças levam lanche de casa para a escola, não há motivo para ter mesada para usar na cantina.

Se os pais querem que os filhos aprendam a se organizar com o dinheiro, precisam suspender o lanche caseiro e dar a eles uma mesada que lhes permita comprar o lanche na escola. Além disso, precisam também tutelar, dia a dia, o gasto deles para que aprendam, na prática, a usar o dinheiro de modo a poder comprar lanche nos cinco dias da semana. Mesada sem objetivo claro só estimula o consumismo nas crianças, e já sabemos que isso não é nada bom para a formação delas.

Agora vamos conversar sobre uma questão delicada, já que muitos pais costumam praticá-la, incentivados, inclusive, por alguns profissionais, que é o costume de pagar para que os filhos realizem tarefas domésticas.

Será que é bom ensinar aos filhos que um comportamento pode ser comprado? Pois é isso que ensinamos a eles quando oferecemos presentes, guloseimas ou dinheiro, dados como condição para alguma atitude ou comportamento deles. Se for bem na escola, vai realizar a viagem dos sonhos ou ganhar o brinquedo que tanto queria; se for obediente, vai receber alguma recompensa; a cada dia em que arrumar a cama, vai ganhar algum valor em dinheiro, e assim por diante.

Precisamos, isso sim, é ensinar que, em casa, todos devem colaborar com a família, de acordo com as possibilidades que cada um tem. Precisamos ensinar também que escolhemos qual atitude tomar ou como nos comportar, e que arcamos com as consequências de nossas escolhas.

E tudo isso podemos ensinar sem recompensas materiais envolvidas, não é verdade?

Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

Fonte: coluna jornal FSP 

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