Rótulos deveriam identificar alimentos in natura, processados e ultraprocessados


Anvisa pretende destacar advertência sobre teor de açúcar, gordura e sódio.

Você lê atentamente os rótulos dos alimentos e bebidas antes de colocá-los no carrinho do supermercado? Já está passando da hora de se familiarizar com os ingredientes de tudo o que come e bebe. E de prestar muita atenção a corantes, aromatizantes, conservantes etc. A propósito, os rótulos deveriam indicar clara e ostensivamente alimentos in natura, processados e ultraprocessados.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estuda novos modelos para rotulagem de alimentos. Uma das propostas é destacar, na frente da embalagem, advertência sobre altos teores de açúcares, gorduras saturadas e sódio. A indústria sugere o 'semáforo nutricional', com uso de cores verde, amarela e vermelha para baixo, médio ou alto teor destes nutrientes. Entendo ser melhor a ideia da Anvisa. E reforço a sugestão de informar o tipo de processamento do alimento.


Uma das propostas da Anvisa é destacar, na frente da embalagem, advertência sobre teores de açúcares, gorduras e sódio -  

In natura são frutas, legumes, folhas, ovos e leite, consumidos praticamente sem modificação, da forma como estão disponíveis na natureza. Quando recebem alteração antes de chegar ao consumidor –limpeza, moagem, remoção de partes não comestíveis– são minimamente processados. 

Devemos evitar, contudo, os processados e, principalmente, os ultraprocessados, porque recebem diversos aditivos.

Uma espiga de milho é um produto in natura. Milho em conserva é processado, e em forma de salgadinho é ultraprocessado.

Não há dúvida de que ultraprocessados são os favoritos de crianças, adolescentes e até de muitos adultos. Quem não gosta de sorvete, refrigerante, bolo, biscoito, achocolatado e salgadinho? Além disso, pratos prontos são muito utilizados em função do preço e da praticidade.

Todos esses itens, contudo, são associados à obesidade, diabetes e hipertensão, dentre outras doenças. Às vezes, temos a impressão de ser mais saudáveis, por vinculá-los à prática de exercícios físicos. Isso ocorre com barras de cereais, bebidas lácteas e iogurtes adoçados, bem como cereais matinais açucarados.

No passado, comprávamos mais frutas, legumes e verduras em feiras-livres. E não havia tanta variedade nas prateleiras dos armazéns. Hoje, em qualquer mercadinho elas estão repletas de opções para as refeições. 

Vivemos muito mais e temos de cuidar melhor da nossa saúde, um desafio crescente à medida que envelhecemos.

Em época de recursos públicos escassos, evitar doenças, além de melhorar a saúde e a qualidade de vida dos brasileiros, economizaria bilhões de reais em consultas, exames e cirurgias na rede pública. Há iniciativas bem-sucedidas neste aspecto. Nas últimas décadas, políticas públicas reduziram expressivamente o tabagismo no Brasil.

Ainda não avançamos tanto assim em relação ao alcoolismo e aos ferimentos e mortes provocados por acidentes de trânsito e pela violência generalizada. 

A conscientização da população vai impor, cedo ou tarde, mudanças nos rótulos dos produtos alimentícios. Que seja logo, para o bem de todos nós.

Maria Inês Dolci - advogada especialista em direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa)

 

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