Nome proporcional à dimensão do talento, ao estoque de alegria e
à extensão de sua humanidade. O inesquecível apelido de apenas três letras é a
síntese harmoniosa da biografia combinada à biotipologia. De Itália tem apenas
os quatro primeiros dos seus intensos 90 anos, comemorados na quarta-feira
(18/2): de Brasil tem 66, de Uruguai e Argentina, outros 20.
Patriarca e paradigma da moderna caricatura brasileira é também
sua figura emblemática, traço de união entre as gerações de Álvaro Cotrim
(Álvarus), Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar e os Caruso (Chico e Paulo).
Como
Nássara e Mendez antes dele, viciado em samba, adicto ao Carnaval, folião por
inúmeras razões, entre as quais a astrologia – nasceu numa quarta-feira antes
do Carnaval – e continua cercado de Carnaval por todos os lados: fanático
portelense, apaixonado por mulatas (a mulher, Olivia, ex-passista da Portela, é
uma das inesquecíveis Irmãs Marinho; Haroldo Costa, ator, protagonista de Orfeu
da Conceição, escritor, produtor, sambista e carnavalesco, é casado com a
outra).
De alguma forma Lan conseguiu transportar da afortunada
Florença, na Toscana, a incrível carga de vitalidade, beleza e amor à vida que
coloca em cada um de seus desenhos.
Cor
de jambo
Foi
Samuel Wainer que, em 1952, por indicação do diretor de arte Andrés Guevara, o
lançou no jornalismo brasileiro (já era conhecido na imprensa portenha). Na
trincheira daÚltima Hora, com apenas alguns traços transformou a figura
do arqui-inimigo Carlos Lacerda no “Corvo”, ave até então simpática e astuta,
num bicho carniceiro.
Dez
anos depois, em 1962, Lan é chamado para ilustrar a página diária de opinião doJornal
do Brasil, onde permaneceu ao longo de 33 anos. Seu traço rápido, cortante,
tão apropriado para os vespertinos e as notícias quentes, agora é uma filigrana
esmerada, com meios-tons obtidos através de centenas de traços.
Verdadeiros portraits, enriquecidos com tanta sofisticação que
alguns caricaturados (como o então czar da economia, Delfim Netto), embora
satirizados, tudo faziam para conseguir um de seus originais.
Lan
está hoje no Globo, aos sábados, com o lápis ainda mais solto e
livre, transferindo as alucinantes curvas das mulatas às sinuosidades do amado
Rio de Janeiro que tanto adora que prefere vê-lo à distância (mora em Pedro do
Rio, na serra de Petrópolis).
Ao lado das divas cor de jambo está sempre um velhinho bigodudo
e miniaturizado, simpático, provocador, hoje um monumento vivo do jornalismo
gráfico brasileiro.
Alberto Dines – jornalista, escritor,
dirigiu e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal, foi
editor –chefe do Jornal do Brasil, criou o site Observatório da Imprensa, é
pesquisador sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da
Unicamp.
Fonte: site Observatório da Imprensa