Mudança nos ventos, e nos juros, obrigam investidor a ajustar expectativa de rentabilidade
Elisa é da família e há poucos dias me enviou mensagem dizendo que estava pensando em resgatar uma aplicação em um fundo de investimento que estava rendendo pouco, 8% em 18 meses.
Respondi com uma pergunta: quanto rendeu o CDI no mesmo período? "Não sei, não tenho essa informação" foi a resposta dela. Pedi para pesquisar e me voltar com a informação.
Quando investiu, há 18 meses, ela estabeleceu uma expectativa de retorno baseada na rentabilidade acumulada nos 12 e 24 meses anteriores. A retrospectiva de cerca de três anos, muito diferente do mercado atual, explica seu descontentamento em relação ao retorno oferecido pelo fundo.
A expectativa de rentabilidade futura foi ancorada em parâmetros que precisam ser reajustados. E eu queria que ela chegasse a essa conclusão sozinha.
Dois dias depois, Elisa envia nova mensagem dizendo que a variação do CDI era ligeiramente inferior à do fundo e concluiu, por conta própria, que seu descontentamento não fazia sentido e havia decidido manter a aplicação.
A boa notícia é que Elisa monitora seus investimentos, coisa que todo investidor deve fazer periodicamente, ao menos duas vezes por ano, para verificar se a aplicação está rendendo conforme previsto.
Entretanto, é importante utilizar o parâmetro correto na hora de avaliar o desempenho de cada aplicação financeira.
Um fundo DI, por exemplo, ou mesmo um CDB DI, uma LCI ou LCA, foi escolhido para oferecer a variação da taxa DI, seja ela qual for. Assim, se a variação do CDI em 12 meses foi de 6,5%, é justo esperar que o retorno bruto do fundo seja um percentual muito próximo a esse, depois de descontar a taxa de administração.
Se a taxa cai para 5,5%, esse passa a ser o novo retorno a partir de agora. O parâmetro anterior deixa de fazer sentido. A rentabilidade da aplicação será menor não em razão de desempenho ruim do produto ou do gestor, mas será menor porque o índice de referência que remunera os ativos caiu.
A rentabilidade de um investimento mais arriscado, como fundo multimercado, por exemplo, que promete atingir 120% do CDI no longo prazo, também será menor. Supondo que ele consiga o desempenho prometido, apresentará rentabilidade de 6,60% nos próximos 12 meses (120% de 5,5%) contra 7,80% nos 12 meses anteriores (120% de 6,5%).
Portanto, a rentabilidade de todas as aplicações financeiras em ativos de taxa pós-fixada, atreladas à taxa Selic ou CDI, muda de patamar, e o investidor, por sua vez, precisa ajustar a expectativa de retorno, descartar a rentabilidade passada, em termos absolutos, e observar a rentabilidade relativa ao índice de referência.
Se a rentabilidade absoluta está menor do que a esperada ou desejada, mas a rentabilidade relativa segue entregando o percentual do índice de referência do produto, tudo certo.
A rentabilidade do investimento não está ruim; está menor em razão da queda na taxa de juros básica da economia. Se o investidor utilizar a lente correta para avaliar suas aplicações, saberá que está rendendo menos, é verdade, porém, conforme o contratado.
Quando a taxa básica da economia sobe, como aconteceu tantas vezes no passado, o raciocínio é o mesmo. A rentabilidade será tanto maior ou menor, quanto maior ou menor for a taxa que remunera os ativos da carteira.
Assim como Elisa, os investidores acostumados com os previsíveis e estáveis ativos de taxa pós-fixada, precisam aprender a investir em ativos de risco moderado, aceitar maior volatilidade e saber aguardar pelo retorno, que pode tardar ou ser menor do que o esperado.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP