O maior legado da Olimpíada
não será municipal, estadual nem nacional. Será mundial. Os Jogos no Rio deixam
claro que o modelo dos "megaeventos" tornou-se insustentável tanto do
ponto de vista político quanto econômico. Enquanto o mundo assiste ao Brasil (e
ao Rio) se debater para organizar os Jogos apesar da precariedade
atual, fica claro no plano internacional que a Olimpíada do Rio será
a última a ser organizada nesse modelo.
Os próximos grandes eventos internacionais serão
mais comedidos, eficientes, sustentáveis e baseados em inteligência e
tecnologia para serem viáveis. Fernando Montejo, urbanista e pesquisador do MIT
que está no Rio para estudar a organização da
Olimpíada, chama a atenção para as evidências nesse sentido.
Público no
primeiro dia da Olimpíada Rio 2016
Público chega no Parque Olímpico para
acompanhar o primeiro dia de competições
A começar pelo deslocamento da organização desses
eventos, que saíram dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.
Nesse sentido, todas as quatro cidades europeias que enviaram propostas para a
Olimpíada de Inverno de 2022 retiraram suas candidaturas. Só sobrou Almaty
(Cazaquistão) e Pequim, que venceu. Para a Olimpíada de 2024, Boston e Hamburgo
também retiraram suas candidaturas depois de protestos e resistência dos
moradores das cidades.
Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018 todos os Brics
terão organizado ao menos um megaevento (Brasil e China terão organizado dois).
Isso só agrava a situação, pois o custo nesses países é muito maior pela falta
de infraestrutura, e os recursos, mais limitados. Sem contar fatores como
instabilidade política.
Nesse sentido, o modelo da
Olimpíada do Rio é um derivado direto da crença na riqueza do
petróleo. Do delírio que tomou conta momentaneamente do país de que nosso
futuro econômico estaria garantido pelo pré-sal.
Os próximos megaeventos serão derivados de modelos
econômicos muito mais inteligentes, nos quais valores como sustentabilidade,
eficiência e tecnologia serão os grandes diferenciais.
Em face disso, tanto o COI quanto a
Fifa estão implementando amplas reformas com relação às demandas que importam
para as cidades e países-sede desses eventos.
Por exemplo, em 2014 o COI fez 40
propostas para tornar os Jogos Olímpicos mais atraentes, revendo o
processo de escolha, reduzindo os custos das propostas, adicionando
sustentabilidade e eficiência, prometendo maior transparência e
responsabilidade ética e até mesmo promovendo igualdade de gênero.
Vale parabenizar os organizadores dos Jogos no
Brasil, mesmo que boa parte do esforço tenha sido para remar na direção errada.
É provável que a festa será de fato linda e memorável. Vale aproveitá-la ao máximo.
Ela será como o baile da Ilha Fiscal. Entrará para a história marcando o fim de
uma era que não volta mais.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio
de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e
representante do MIT Media Lab no Brasil.
Fonte:
coluna jornal FSP