Pesquisa
analisou a vida de ganhadores da loteria na Suécia
Dinheiro não traz felicidade, dizem nossos pais e avós.
Traz sim, rebatem pesquisadores e especialistas. E leva a uma vida mais
satisfatória, que fica ainda melhor conforme são adicionados zeros à direita no
saldo da conta bancária.
A conclusão mais recente é de uma pesquisa que analisou
a vida de ganhadores da loteria na Suécia. O trabalho, publicado em maio,
indica que, em comparação com grupos de controle, os vencedores de prêmios
expressivos tinham “aumentos sustentados na satisfação geral da vida”.
Quanto maior o valor, melhor: quem ganhava prêmios
milionários dizia estar mais satisfeito que aqueles que tiveram a sorte de
receber somente alguns milhares na loteria.
E essa felicidade não se esvaia no curto prazo, segundo
os autores Erik Lindqvist, da Escola de Economia de Estocolmo, Robert Ostling,
da Universidade de Estocolmo, e David Cesarini, da Universidade de Nova York.
Eles descobriram que a satisfação persistia por pelo menos uma década e não
parecia desaparecer com o tempo.
Em 2018, a Finlândia foi a primeira
do ranking da felicidade
Uma das novidades no estudo de maio é a ideia de
causalidade entre possuir mais dinheiro e ter uma vida mais satisfatória.
Antes, os pesquisadores haviam conseguido identificar uma correlação entre os
dois fatores, ou seja, quem tinha mais dinheiro apresentava índices maiores de
satisfação.
Mas não tinham determinado que um deles provocava o
outro, como no caso da pesquisa com vencedores da loteria sueca.
Um dos pesquisadores mais dedicados ao estudo do tema é
Justin Wolfers, professor de economia e políticas públicas da Universidade de
Michigan. Em 2008, ele publicou, ao lado de sua atual esposa Betsey Stevenson,
um artigo que mostrava que pessoas com renda maior eram mais felizes.
Os dados foram coletados a partir de pesquisas
publicadas pelo projeto World Values Surveys, pelo Banco Mundial e pelo
instituto de pesquisa Gallup, entre outros.
O estudo também indica que não há um teto a partir do
qual a correlação deixa de existir. “O que descobrimos é que não há evidência
de que, em algum ponto, uma renda adicional passa a não ter efeito. Não tem
esse ponto de saturação. Mesmo para os ricos, há um efeito de mais dinheiro
sobre a felicidade.”
Mas é uma relação logarítmica, acrescenta. Ou seja, o
valor da felicidade do próximo dólar sempre vai ser menor que o atribuído ao
que você ganhou antes.
Grant Donnelly, professor assistente de marketing do
Fisher College of Business, da universidade estadual de Ohio, é outro estudioso
do tema.
Ao lado dos colegas Tianyi Zheng, Emily Haisley e
Michael Norton, ele analisou duas amostras de mais de 4.000 pessoas com até US$
10 milhões. A pesquisa, publicada em maio, foi feita a partir da base de dados
de instituições financeiras americanas. A pergunta sobre a felicidade era
inserida no meio de um questionário regular sobre a satisfação com o banco.
“Deu para saber que, quanto mais ricos, mais felizes eles eram. Mas não é uma
relação linear, ou seja, quem tem US$ 10 milhões não era dez vezes mais feliz
do que quem tinha US$ 1 milhão”, afirmou.
Importa ainda a forma como o dinheiro é obtido, afirma
Donnelly. Segundo ele, quem trabalhou para conquistar a fortuna expressava
felicidade maior do que quem herdou os milhões. “As pessoas valorizam aquilo em
que colocam esforço”, resume.
E a pesquisa trouxe um dado curioso: os milionários
entrevistados foram perguntados sobre o nível em que sua riqueza precisaria
aumentar para que fossem mais felizes. “Eles achavam que precisavam de uma
quantidade exorbitante de dinheiro para se sentirem felizes. Mas vimos que um
aumento mais modesto produzira o mesmo nível de felicidade”, explica.
Aos números: quem dizia que só seria muito mais feliz
com US$ 7 milhões a mais na conta bancária, na verdade, obteria o mesmo grau de
satisfação com US$ 5 milhões. “Essa crença provavelmente origem na energia que
as pessoas dedicam à aquisição da fortuna.”
E a coerência entre a personalidade do milionário e como
ele gasta a fortuna também influencia no nível de felicidade. Essa relação foi
identificada por Ryan Howell, professor associado de psicologia na universidade
estadual de San Francisco.
Ele é coautor de um estudo, publicado em junho de 2014,
que indica que a felicidade é maior quando o dinheiro é gasto com experiências
para o endinheirado, em vez de em produtos e itens para ostentar para os
outros.
“A recomendação é comprar experiências de vida, em vez
de bens materiais”, diz. “Uma das coisas importantes quando você consome é ser
verdadeiro com o que você é. Se você fizer algo para impressionar os outros,
eles não ficarão tão impressionados e isso não vão trazer felicidade para
você.”
Ou seja, comprar uma Ferrari sem gostar da marca não te
traz mais felicidade, ainda mais se as pessoas às quais você tentou
impressionar ignorarem solenemente ou criticarem a escolha.
O alerta ganha mais importância em tempos de ostentação
em redes sociais, diz. “Toda vez que sua felicidade está em outras pessoas,
você não vai ter felicidade verdadeira. A motivação importa muito. Se você faz
viagens e posta fotos para impressionar, diminui a qualidade das experiências
que você tem”, diz
Danielle
Brand –
jornalista em nova York
Fonte:
jornal FSP