Ryan Craig
As faculdades têm mudado muito nos últimos 25 anos. Um
dos motivos é a falta de recursos para seu custeio. Por conta das mensalidades
sempre disparando, o aluno médio nos Estados Unidos, atualmente, conclui a
universidade com uma dívida de cerca de US$ 30 mil em empréstimo universitário.
Simultaneamente, as faculdades estão enfrentando uma crise na conclusão dos
cursos – somente cerca de 50% dos alunos matriculados termina o curso – e
garante empregos. Mais de 40% dos novos e recém-formados estão subempregados no
primeiro trabalho ; 2/3 deles continuam assim depois de cinco anos, e a metade
está da mesma maneira depois de 10 anos.
O subemprego e os caminhos para uma carreira estão
pressionando certas questões, uma vez que faculdades e universidades ainda não
conseguiram acompanhar a velocidade das habilidades digitais exigidas pelos
empregadores.
O Fórum Econômico Mundial avaliou que somente 27% das
empresas pequenas e 29% das empresas grandes acreditam possuir os talentos
digitais necessários. Dos CEOs da Business Roundtable, 3/4 afirmam não
conseguir encontrar trabalhadores nas áreas embasadas pelo ensino STEM (sigla
em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática) para preencher
suas vagas. A Deloitte avaliou que no Reino Unido, somente 25% dos
“líderes digitais” acreditam que sua força de trabalho tenha as habilidades
suficientes para colocar em prática a sua estratégia digital. Um outro
levantamento apontou que 80% dos executivos estão extremamente preocupados com
a lacuna nas habilidades digitais.
O resultado culminou em calamidade financeira –
principalmente para os Millenials americanos: ao todo, 57% dos que receberam o
financiamento estudantil estão em dia com os pagamentos, e 1/3 dos estudantes
que se formaram entre 2006 e 2011 não os honraram. A compra da casa
própria e a abertura de empresas por jovens adultos diminuíram. À medida que a
Geração Z chega à idade universitária, ela observa os exemplos dos Millenials e
avalia se cursar 4 anos em uma faculdade ou universidade reconhecida seria o
caminho ideal para atingir o objetivo principal: um bom primeiro emprego (e,
provavelmente, digital) num setor em ascensão na economia.
Caminhos mais rápidos e mais baratos para os primeiros
bons empregos estão prestes a substituir os diplomas caros e demorados
(especialmente de faculdades e universidades que não exigem pré-seleção) na
preferência da Geração Z. Essa geração tem sido prejudicada frente aos elevados
investimentos iniciais. Por que comprar um carro se é possível chamar um por
meio de apps? Por que adquirir uma assinatura de pacote de canais a cabo quando
é possível assistir a canais e shows por streaming? A economia
compartilhada não vai deixar a educação universitária, no valor de US$ 500
bilhões, ilesa. A Geração Z quer colocar os pés no primeiro degrau da carreira
– um bom primeiro emprego rapidamente, sem acarretar ônus – antes de decidir
qual faculdade fazer para reforçar as habilidades cognitivas, tornar-se gestor,
seguir adiante e subir na carreira.
A meta não é ter menos educação universitária per
capita. Isso não faria sentido numa economia de conhecimento global. Em vez
disso, o objetivo é repensar como a educação é utilizada, desde o que você pode
absorver rapidamente, até o que você precisa, quando precisa. Para essa finalidade,
estamos notando o surgimento de alternativas mais rápidas e mais baratas ao
curso superior, sob a forma de bootcamps que oferecem treinamentos
pré-contratação e que levam diretamente a bons empregos digitais e programas de
compartilhamento de receita, como o Lambda School – embora nenhum tenha
atingido ainda a massa crítica dos que tem 18 anos.
Antes de o diploma universitário se tornar uma aposta
para obter uma primeira vaga na profissão desejada, e antes de faculdades e
universidades começarem a divulgar milhares de cursos de mestrado
cuidadosamente elaborados e testados em pesquisas de mercado, a melhor opção
era colocar os pés numa empresa com a ajuda de um profissional de dentro:
arrumar um emprego inicial ou estágio, tentar ser útil e aprender o que desse.
Em algumas áreas e ao longo da história, essa prática tomou o formato de
programas de aprendizado, que não só deixavam de cobrar mensalidades, como
também remuneravam alunos para aprenderem na prática.
Na próxima década, espero que os programas de
aprendizado de vários tipos surjam como uma alternativa viável e escalável aos
cursos superiores como um primeiro passo para um bom emprego em setores em
crescimento. Esses programas mais longos serão oferecidos por funcionários e
prestadores de serviços em áreas carentes de certas habilidades – prestadores
que criaram grandes empresas nas áreas de terceirização, avaliação minuciosa e
treinamento de talentos iniciantes. É evidente que os maiores fornecedores de
programas de aprendizado serão aqueles que oferecerem incentivo comercial para
o aumento da produção e alocação de pessoas treinadas, para os clientes que
apresentem escassez de talentos. Os programas aprendizado que se destacarão
serão aqueles que incorporam o talento como sendo um produto ou serviço para o
cliente – modelos que auxiliam os fornecedores do aprendizado a atingirem metas
financeiras. Chamamos isso de “programas de aprendizado terceirizado”, ou seja,
programas dirigidos por empresas especialistas a favor de centenas de clientes.
Uma vez que os empregadores atualmente acreditam que
nosso sistema de contratação está falido, a próxima frente na guerra por
talentos será a contratação de nível inicial. E os primeiros perdedores dessa
batalha serão, provavelmente, faculdades e universidades tradicionais.
Ryan Craig - autor do livro College
Disrupted e New U: Faster + Cheaper Alternatives to College. Craig é
Diretor Geral da University Ventures, que está repaginando o futuro da educação
universitária e criando caminhos da educação para a empregabilidade.