THOMAZ
SROUGI, DA DR. CONSULTA: “Infelizmente, o sistema público do Brasil está
quebrado”.
Startup aposta capitalizar a partir da demanda por serviços
acessíveis para um número crescente de brasileiros sem plano de saúde
privado.
Uma
solução potencial para os males atuais do setor de saúde pode ter nascido
dentro de uma das maiores favelas brasileiras. A startup Dr. Consulta está
apostando que pode capitalizar a partir da demanda por serviços acessíveis,
“à la carte”, para um número crescente de brasileiros que não contam com plano
de saúde privado. A empresa já atraiu investidores incluindo o bilionário
co-fundador da 3G Capital Jorge Paulo Lemann e empresas de venture capital como
Kaszek Ventures e Madrone Capital Partners.
“Infelizmente, o sistema público do Brasil está
quebrado,” disse o presidente da Dr. Consulta, Thomaz Srougi, em uma
entrevista. “A gente acredita que o nosso modelo possa ser aplicado em qualquer
lugar na América Latina e na América do Norte para resolver a crise de saúde,
que só tem aumentado, porque as pessoas estão envelhecendo.”
A oferta de serviços da empresa inclui um hemograma por
R$ 16 e uma ultrassonografia de abdômen total por R$ 160. De acordo com o
website, as consultas mais procuradas são com ginecologistas (R$ 115),
psiquiatras (R$ 160) e dermatologistas (R$ 120). Os pacientes também podem
agendar uma consulta com um cardiologista por R$ 140. “A gente acessa os
pacientes de forma direta,” diz Srougi.
Com a taxa de desemprego aumentando ao longo dos últimos
três anos no Brasil, o número de pessoas com acesso a planos de saúde privados
está caindo. No último mês de dezembro, 47,3 milhões de pessoas contavam com um
plano, contra 50,4 milhões quatro anos antes, de acordo com dados
disponibilizados pela ANS.
“O número de pessoas perdendo o plano de saúde no Brasil
é relevante e o país está ficando mais velho, o que aumenta a necessidade por
tratamento”, disse Luciano Campos, ex-analista de saúde do Bradesco BBI, em uma
entrevista por telefone. “A Dr. Consulta não é regulada, não é um plano de
saúde. Simplesmente resolve os problemas das pessoas. Encontrou uma lacuna no
mercado.”
Início em Heliópolis
A Dr. Consulta abriu a sua primeira unidade em 2011 em
São Paulo, em Heliópolis, a décima favela mais populosa do país. A empresa
contou com um único centro médico durante os seus primeiros três anos, em busca
da validação do seu conceito. “Nós sabíamos que, se fôssemos bem sucedidos em
Heliópolis, provavelmente seríamos bem sucedidos na cidade de São Paulo,” disse
Srougi. Depois de São Paulo, a chance de dar certo no Brasil também era grande,
segundo ele.
Cerca de 30 por cento das consultas são agendadas por
meio do aplicativo da Dr. Consulta, que permite que a empresa reduza o seu time
de call center, disse Srougi. Além disso, a startup desenvolveu um software
próprio para compilar informações de pacientes. “Há muita tecnologia embarcada.
E a tecnologia ajuda a gente a automatizar tarefas que são repetitivas. Faz com
que a gente reduza o custo de serviços”, disse Srougi.
Os médicos recebem uma lista de procedimentos para cada
tratamento. Por exemplo: se um profissional recomenda quatro exames para uma
situação que requer apenas três, a sua remuneração diminui.
Planos de expansão
Hoje, a Dr. Consulta possui mais de 1 milhão de
pacientes, cerca de 2.000 médicos e 60 locações. Cerca de 200.000 pessoas são
atendidas por mês.
Após São Paulo, a empresa abriu a sua primeira unidade
no Rio de Janeiro e também se expandiu para Belo Horizonte. Antes de 2019, já
havia levantado US$ 100 milhões de fundos estrangeiros, assim como de médicos
brasileiros e americanos. Agora, a empresa está na metade de seu objetivo de
levantar outros US$ 100 milhões.
“Estamos vendo um grande interesse dos americanos”,
disse Srougi. Ele não quis comentar mais a respeito dos planos de longo prazo
da Dr. Consulta nos Estados Unidos.
A expansão para fora do Brasil também está na cabeça dos
investidores. “No fim do dia, cada país ao redor do mundo quer saúde de maior
qualidade e acessível”, disse Hernan Kazah, co-fundador da Kaszek Venutres.
“Eventualmente, eles poderiam encontrar oportunidades” nos EUA, disse Kazah.
Fonte: Exame