Cena do filme "A Rede Social", de David Fincher, que
mostra a origem do Facebook
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Não
há dúvidas de que as redes sociais e outras ferramentas [aviso de mensagem no
WhatsApp] de comunicação digital facilitem a vida moderna. O problema é que
ascensão e a onipresença dessas ferramentas [alerta de marcação em foto no
Facebook] transformou em cacos a atenção de trabalhadores.
Quem
afirma isso é o americano Cal Newport, cientista que estuda o impacto da
tecnologia no trabalho. Seguindo a tendência das chamadas filosofias
"deep", de tentar isolar as distrações da vida moderna, ele criou o
"deep work" (trabalho profundo, em tradução livre).
Foi
a preocupação em conseguir realmente se concentrar nas tarefas de trabalho que
levou Newport, professor de ciência da computação na Universidade de
Georgetown, a escrever o livro "Deep Work - Rules for focused success in a
distracted world" (Trabalho Profundo - Regras para o sucesso concentrado
em um mundo distraído), ainda sem lançamento no Brasil.
Newport
afirma que as redes sociais e a tendência geral à hiperconectividade estão
prejudicando carreiras e impedindo o sucesso e a excelência profissional.
De
modo geral, o cientista da computação diz que atividades superficiais na
internet, como checar e-mails constantemente ou ver as atualizações na timeline
de uma das inúmeras redes sociais existentes, tomam um tempo excessivamente
grande em troca de muito pouco.
Segundo
Newport, a tentativa de fazer muitas coisas ao mesmo tempo leva a um trabalho
com menor valor agregado e facilmente replicável. Ele chama isso de
"shallow work" (trabalho superficial).
Do
outro lado, o "deep work" seria a realização de atividades
profissionais em estado de concentração, o que levaria as capacidades
cognitivas ao limite e, consequentemente, produziria conhecimento, valor e
resultados dificilmente replicáveis.
Uma
das bases do pensamento de Newport é a questão da atenção residual. Segundo
ele, conforme alternamos entre atividades, uma parcela de nossa atenção
permanece na tarefa original.
A
ideia é partilhada por Dora Góes, psicóloga do Programa de Dependências
Tecnológicas do Hospital das Clínicas da USP. "Essa história de cérebro
multitarefa não existe. Se estou fazendo várias coisas, haverá foco maior em
uma delas e as outras ficarão deficitárias. Mas achamos que damos conta."
O
resultado disso, tanto para a psicóloga quanto para Newport, é uma menor
capacidade para aprender novas coisas. "Isso interfere na nossa memória a
longo prazo, na nossa concentração", afirma Góes. "A mente que está
agitada entre um aplicativo e outro é muito diferente de uma que está
concentrada lendo um texto mais profundo."
Isso,
de acordo com Newport, torna-se quase uma questão de sobrevivência ao se pensar
no sucesso profissional –o que fica claro já no título do artigo que escreveu
para o jornal "The New York Times": "Abandone as redes sociais,
sua carreira pode depender disso".
O
cientista diz que, na economia atual, mesmo que ainda existam trabalhos que não
necessitem de grandes doses de concentração, a valorização profissional virá
para quem pratica o "deep work".
Segundo
o autor, as transformações tecnológicas e econômicas atuais premiam aqueles que
conseguem aprender rapidamente coisas complicadas (como interpretar grandes
bases de dados).
Cal
Newport está na casa dos 30, ou seja, é um millennial e, apesar disso, não pode
ser encontrado em nenhuma rede social –nem no Linkedin, que conecta
profissionais. Outros meios de comunicação mais modernos também não são
exatamente bem-vindos na vida dele.
"Eu
só fui ter meu primeiro smartphone em 2012, quando minha esposa grávida me deu
um ultimato: 'Você tem que ter um telefone que funcione antes do nosso filho
nascer''', conta Newport no livro. "Uma vida profunda é uma boa vida"
diz.
AS REGRAS DO 'DEEP WORK'
Cientista ensina como ter sucesso no trabalho ao controlar
distração digital
Não
há dúvidas de que as redes sociais e outras ferramentas [aviso de mensagem no
WhatsApp] de comunicação digital facilitem a vida moderna. O problema é que
ascensão e a onipresença dessas ferramentas [alerta de marcação em foto no
Facebook] transformou em cacos a atenção de trabalhadores.
Adapte alguma das "filosofias"de 'deep work' à sua
profissão
Filosofia do Monge
Como o nome dá a entender, a ideia é se isolar ao máximo do contato com a
tecnologia, redes sociais, internet e afins para buscar o "deep work"
Problema: Poucas pessoas podem se isolar sem sofrer consequências no trabalho
Filosofia Bimodal
Divida o tempo em longos períodos monásticos (como a filosofia anterior prega)
e outros períodos livres para fazer qualquer coisa.
Problema: Algumas horas podem não ser suficientes para um "deep work"
Filosofia Seinfeld
O comediante Jerry Seinfeld transformou seu trabalho de escrever piadas em um
hábito, e todos os dias tinha um tempo para pensar nelas. O mesmo pode ser
feito para outras ações. Marcar grandes X em um calendário pode ajudar.
Problema: Ajuda a rotina a funcionar, mas pode não atingir "deep
work"
: REGRA 2
Aceite o tédio
Meditação Produtiva
Separe um período para caminhar. Aproveite esse tempo para se concentrar
totalmente em algum problema profissional.
Não use a internet para diversão
Programe seus horários livres.
: REGRA 3
"Abandone" as redes sociais
Por que usar uma rede social?
Identifique quais são os benefícios das redes sociais que você usa e se há
benefícios. Desse modo é possível ver quais fazem real diferença para você. Não
é necessário estar em todas.
Os poucos valiosos
Identifique as duas ou três principais atividades que podem ajudá-lo a alcançar
seus objetivos profissionais. O resto é minimamente relevante e será
desperdício de energia.
30 dias
Experimente deixar as redes sociais por 30 dias. Para alguns, dependendo da sua
posição, isso pode até causar alguns problemas. Mas, para a maioria, isso pode
mudar a visão sobre as redes.
: REGRA 4
Impeça a superficialidade
Seja difícil
Crie filtros para que as pessoas cheguem até você, e faça com que elas mesmas
se "filtrem", como deixando a mensagem "Só mande mensagens em
caso de...". Isso pode reduzir o tempo gasto na caixa de entrada do seu
e-mail. Em certos casos, até mesmo deixar pessoas sem resposta, em e-mails, por
exemplo, pode valer a pena.
Faça planejamento
Planejar cada minuto do seu dia, em blocos de tempo, pode ajudar.
Determine um horário para terminar o dia
Faça o planejamento para ter acabado tudo do trabalho em um determinado
horário. Desse modo, fica mais fácil de buscar produtividade para cumprir as
ações.
Fonte: DEEP WORK
AUTOR Cal Newport
EDITORA Grand Central Publishing
PREÇO R$ 35,99 (Google Play, em inglês)
Phillippe Watanabe – jornalista da FSP