Nos últimos
anos, os escândalos políticos e suas consequências nefastas sobre a economia e
a vida dos brasileiros parecem não ter fim. Os avanços recentes no combate à
corrupção e à impunidade e os grandes ganhos de longo prazo que eles podem
trazer ao país, se forem sustentados, não podem ser perdidos. Retroceder na
limpeza política por que passa o Brasil em nome de apaziguar o ambiente seria
uma péssima opção. Já pagamos muito caro para abrirmos mãos dos ganhos que
teremos, mesmo que estes ganhos possam ainda estar distantes.
Temos de
acelerar o expurgo político e criar condições para reduzirmos ao máximo a
corrupção. Temos de espalhar o medo de punições graves entre corruptos e corruptores.
Aqueles em posições passíveis de envolvimento com condutas ilícitas têm de ter
mais a perder do que a ganhar caso envolvam-se com práticas ilegais.
O mais
importante para isso é que políticos e empresários corruptos sejam condenados
pela Justiça a penas duras. No caso dos empresários, isto já vem acontecendo
nos últimos anos. Faltam condenações exemplares generalizadas a políticos de
todos os partidos.
Adicionalmente,
a legislação tem de ser ajustada para facilitar a condenação e endurecer as
penas de envolvidos em corrupção. Este era exatamente o objetivo das 10 Medidas
Contra a Corrupção elaboradas pelo Ministério Público, que os congressistas, em
defesa própria, tentaram desfigurar, mas foram forçados a retroceder, ao menos
por ora, em função de pressão popular.
Acredito que há
mais um fator possível para limitar a corrupção: envergonhar publicamente
políticos corruptos. Há várias formas de se fazer isso. Uma delas envolve o
código de ética aos políticos. Como médicos, advogados e tantas outras classes
profissionais, senadores e deputados possuem um código de ética, que atualmente
é solenemente ignorado. E se todos os políticos em cargos públicos tivessem de
recitar publicamente tal código de honra uma vez por mês, expondo–os
publicamente e os sujeitando a punições severas em caso de não cumprimento?
Não tenho
nenhuma ilusão que só isso acabará com a corrupção. Há pessoas que sempre
tentarão burlar as regras e a impressão é que a política atrai uma proporção
grande delas. Há também pessoas incorruptíveis, que sempre fazem o certo,
independentemente das regras. Para os demais – a grande maioria – os incentivos
às condutas corretas e as punições às más condutas fazem a diferença. Neste
sentido, um código de ética rígido e com visibilidade poderia ser mais um
aspecto para colaborar na formação de uma classe política mais ética e na
redução da corrupção no país.
Ricardo Amorim -apresentador do Manhattan Connection da
Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo
a revista Forbes