Boato eleitoral sempre existiu, mas atualmente há agravantes.
“Boato/rumor: sinônimos de informação não confirmada. Só
publique quando sua propagação se tornar notícia. Exemplo: o boato da
destituição do presidente do BC provoca a queda da Bolsa. Nesse caso, deve-se
noticiar a queda da Bolsa e deixar claro que a informação sobre a destituição
no BC não está confirmada.”
Na terça (dia 07 de agosto), um boato dava conta de que
seria feita uma delação contra Geraldo Alckmin. Não comprovar a veracidade
desse tipo de rumor não significa desmenti-lo —por ser impossível atestar que
alguém (não se sabe quem) não vai (algum dia) afirmar algo (qualquer coisa). Outro boato especulava sobre pesquisa do
instituto MDA. Aqui, a Lei Eleitoral, tão ciosa de tutelar tudo,
deixa lacuna pró-confusão, pois determina o aviso sobre o levantamento com
cinco dias de antecedência, mas não dá prazo para divulgação.
Também na terça, um terceiro rumor versava sobre o
Datafolha indo registrar uma pesquisa. O que leva a novo problema. Enquanto os
institutos de renome têm de cumprir vários requisitos de publicidade, outros
tantos levantamentos são feitos na moita, em prol de grupos restritos. Boato eleitoral sempre existiu, e quem
viveu a campanha de 2002 sabe o nível de nervosismo
que ele traz. Só que há dois agravantes agora. Primeiro, é mais fácil espalhar
qualquer coisa. Segundo, a maluquice do noticiário brasileiro recente tem um
efeito terrível: tudo e o oposto de tudo se tornaram críveis.
A
montanha-russa eleitoral faz mal a quem procura emprego. Para o mercado financeiro, a campanha é uma grande
oportunidade. A banca vive sob regras próprias; quem participa dela influencia
o debate público, mas não precisa demonstrar compromisso público. Tem zero
obrigação de dizer a verdade. Nesse jogo, fake news é real money
Roberto Dias - secretário de Redação da Folha.
Fonte: jornal FSP