Gestão de planos de benefícios previdenciários nunca foi fácil,
mas é um trabalho particularmente mais complexo no ambiente atual. Dentre
outros fatores, uma combinação de baixas taxas de juros líquidos (juro
descontado da inflação) e o mercado de ações altamente volátil faz elevar os
riscos envolvidos. Dos administradores, cada vez mais conscientes dos riscos
associados a um plano de benefícios, exige-se um papel mais ativo para
gerenciar esses riscos.
Para as patrocinadoras de planos de benefícios previdenciários,
a busca para reduzir a volatilidade dos resultados que impactam seus balanços
tem sido crescente, exigindo das entidades de previdência complementar a
implantação de mecanismos de redução ou eliminação de riscos dos planos. Desta
forma, a identificação de riscos possíveis, quer sejam devido a premissas de
mortalidade/sobrevivência, quer seja da aplicação da taxa de juros adotadas na
avaliação atuarial, tem exigido a busca por mecanismos de proteção ao
risco decorrentes de uma crescente sobrevida e da redução da taxa de juros.
Em geral, de-risking significa reduzindo e/ou eliminando risco,
desta forma aplicado aos fundos de pensões dá nome a muitas das estratégias que
podem ser tomadas por administradores e patrocinadores para os planos de
benefício com componentes de risco (planos de benefícios definidos – BD,
contribuição variável – CV inclusive planos de contribuição definida – CD com
benefícios de riscos. E por trás desse nome há estratégias complexas e de
minuciosa implementação.
A primeira vista, podemos facilmente deduzir que a saída do
mercado de ações ou a venda de ativos com risco pode parecer uma maneira fácil
de reduzir o risco de um plano de benefícios, mas isso não é necessariamente
tão simples como parece. Esta enganado quem pensa, que de-risking é
simplesmente a venda de ações e investir em títulos de renda fixa de baixo
risco, pois com isto pode estar deixando passar o momento e a abrangência
corretas de uma estratégia de de-risking.
A justificativa para implementar uma estratégia de de-risking
advem da preferência por esquemas que fixem recursos de fundos/ativos em valor
suficiente para que o plano possa sustentar-se com pouca ou nenhuma dependência
do patrocinador e nem careça de contribuições suplementares dos participantes.
Trata-se de uma aspiração comum a todas as patrocinadoras de planos de
beneficios previdenciários, pois terão uma menor exigência na aplicação do
IFRS/IAS 19 (CVM 695/12) .
Nos
Estados Unidos, Matt McDaniel, líder em riscos de planos de benefícios
definidos da MERCER, afirmou em entrevista para o site Benefitspro que
vivemos em uma tempestade perfeita nos fundos de pensão, em face dos fatores de
aumento na sobrevivência e redução do nível de cobertura (solvência) dos
planos, estimulando mais patrocinadores a explorar esquemas de de-risking.
A forma mais comum, porém, a mais extrema, de se adotar uma
estratégia de eliminação de riscos é efetuar uma retirada de patrocínio com
opção do participante e assistido adquirir na seguradora uma anuidade.
Observa-se nesta operação, perante o IFRS/IAS 19 (CVM/695), a eliminação do
risco no balanço do patrocinador, sendo assumido integralmente pela companhia
de seguros. Porém, há outras estratégias de “de-risking”, em que se adotam os
contratos de anuidades oferecidos por seguradoras, onde o plano pode inclusive
se isentar totalmente de qualquer impacto sobre sua situação financeira
decorrente da realização de hipóteses diferentes do esperado (exemplo: se as
taxas de juros aumentarem além do que se esperava).
As
soluções de-risking mais comuns no mundo incluem:
Buy-out,
referência que se dá a compra de um contrato de anuidades, que transfere as
obrigações do plano de benefícios para a companhia de seguros. A companhia de
seguros fará os pagamentos dos benefícios diretamente aos assistidos e assume a
responsabilidade por todo o risco de investimento e de longevidade associado ao
plano. Este tipo de operação não é atualmente permitido no Brasil.
Buy-in, contratos
de anuidade com um pagamento a seguradora para coincidir com alguns ou todos os
passivos de um plano de benefícios e reduzir ou eliminar o risco. Neste caso, a
companhia de seguros fará os pagamentos dos benefícios à Entidade e esta aos
participantes e assistidos.
Nos dois casos, seja Buy-in e Buy-out, há uma redução na
exposição de ativos do plano e do passivo, sendo quanto maior a transferência
maior a redução da exposição remanescente no plano. Com isto, o resultado do
plano terá menor volatilidade e redução no nível de exposição ao risco em face
da transferência de parte do passivo.
Redução
da exposição em ações observado o nível de risco do plano.
Nesta
estratégia considerando o IFRS/IAS 19 (CVM 695/12), destacam-se algumas
diferenças nos impactos para o patrocinador em relação ao buy-out e buy-in:
·
Menor ganho atuarial quando do aumento da taxa de juros real;
·
Todos os passivos estão expostos a riscos biométricos (como o de
longevidade), o que poderia ser mitigado em uma estratégia de Buy-out ou
Buy-in; e
·
Menor retorno (rentabilidade) total sobre os ativos do plano
devido à alocação de capital em ativos com rentabilidade menor que a esperada.
Para muitos planos de benefícios e respectivos patrocinadores, a
necessidade de alívio de passivos expostos a risco de longevidade e a taxa de
juros levará ao crescimento de um mercado com soluções de transferência de
risco inovadoras, algumas das quais já previstas pela Resolução CNPC nº 17/15,
além dos tradicionais mecanismos gerais de transferência de riscos.
Devemos
evitar o julgamento quanto a hora de iniciar uma implementação de solução de-risking, que
agora é o momento errado para tal por causa de baixas taxas de juros líquido
(juro deduzido da taxa de inflação) ou caso contrário, é o momento certo, isso
pode ser um erro. Para saber qual a decisão correta a tomar, é importante obter
subsídios em estudos técnicos – digamos, “fazer a matemática” – e certificar-se
que não está se atrasando qualquer estratégia por razões erradas. Soluções com
contratos de anuidades podem fornecer às Entidades e por decorrência aos
patrocinadores do plano uma série de benefícios e de coberturas com uma
estratégia de-risking.
Cesar Luiz Danieli - Atuário, e Diretor de Previdência, Saúde e Seguros da GAMA
Consultores Associados.
Fonte: newsletter GAMA Consultores Associados