Comentário de Mercado - mês de julho


O mês de julho foi muito difícil. Os valores de todos os investimentos oscilaram bastante.

O dólar (pelo cambio oficial – PTAX) teve alta no mês de 9,40% acumulando uma valorização de 27,78% no ano e encerrou o mês cotado a R$3,39.

O COPOM elevou a taxa de curto prazo (SELIC) para 14,25%. Possivelmente a última alta no ano. O IRF-M, que mede a rentabilidade dos títulos públicos com juros pré-fixados, obteve uma rentabilidade de 1,28%, acumulando um ganho de 6,95% no ano. A rentabilidade dos títulos públicos indexados a inflação (NTN-B) de curto prazo (até 5 anos), medida pelo IMA-B5, foi de 1,78% no mês e acumula uma alta de 9,37% no ano. Já a de longo prazo, medida pelo IMA-B5+, teve um rendimento de -1,80% no mês, acumulando uma rentabilidade de 7,07% no ano.

 

A rentabilidade média dos investimentos em ações, medido pelo IBOVESPA, ficou em -4,17%, acumulando uma alta de apenas 1,71% no ano.

O quadro político nacional se deteriorou mais ainda nesse mês e deve continuar piorando. Eduardo Cunha formalizou publicamente seu rompimento com o Governo Federal, o que pode influenciar outros membros do seu partido, PMDB, dificultando ainda mais a vida do governo.

Com a prisão de José Dirceu e um possível acordo de delação premiada de Duque, a investigação da Lava Jato está nos calcanhares dos políticos. Deveremos ver nas próximas semanas as acusações. Sem dúvida estamos entrando na fase mais crítica da investigação e o cenário político esquentará mais ainda.

 

A abertura do mercado no primeiro dia de agosto foi muito influenciado pelo clima político. O dólar subiu e a bolsa caiu. Nas próximas semanas esse dia deve se repetir várias vezes. Espere grandes oscilações de um dia para o outro.

Nas próximas semanas a Presidente Dilma escolherá dois nomes chaves para o futuro das investigações da Lava Jato: 1- O Ministro que será o relator da Lava Jato no Superior Tribunal de Justiça; 2- O Procurador Geral da República, que poderá substituir Janot, se ele não for reconduzido.

Esses nomes são importantes porque o Ministro do STJ é quem julgará as defesas e recursos dos processos. Assim, esse Ministro pode “facilitar” muito a vida dos acusados, emperrando os processos e dificultando novos acordos de delação premiada.

 

Já a indicação do próximo Procurador é decisiva para o futuro das investigações. Com um aliado no lugar de Janot o Governo poderá finalmente dormir em paz e sonhar com uma pizza.

Sem duvida o quadro político vai piorar mais ainda e pode causar mais instabilidade aos mercados. O clima será testado pela manifestação pública marcada para o próximo dia 16. Se tivermos um grande comparecimento da população às manifestações a oposição ganhará muita força e pressionará o Governo mais ainda.

No campo econômico tivemos duas importantes noticias: 1- Redução das metas de superávit nas contas do Governo; 2- Perspectiva negativa para a nota do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P). Esses fatos combinados trouxeram muito nervosismo. Portanto, acredito que o risco de perda do “grau de investimento” ainda não está totalmente precificado como muitos diziam e que se ocorrer veremos mais queda de preços nas ações, alta do dólar e taxa de juros de longo prazo.

 

Acredito que a inflação continuará resiliente mas devemos ter um segundo semestre com taxas menores do que no primeiro.

A desaceleração da economia é grande, produção industrial continua em e queda, desemprego cresce e as vendas no varejo estão baixas, o que dificulta aumento de preços.

No campo internacional a China continua dando sinais de fraqueza e os EUA de melhoras. Entretanto a melhora na economia Norte Americana parece não ser suficiente para um aumento na taxa de juros daquele país em setembro. Alguns analistas já apostam em alta apenas no ano que vem.

 

A Europa cresce devagar. Espanha e Irlanda apresentaram bons crescimentos e parecem estar, finalmente, virando a página da recessão. A novela Grega segue, sem grandes emoções, mas está claro para todos que o problema lá está longe de ser resolvido.

Quem segue esse comentário desde o inicio do ano sabe que estou muito conservador quanto as indicações de investimento. Privilegio a renda fixa e principalmente os investimentos pós fixados (fundos DI). Entretanto, devo reconhecer que títulos de renda fixa com taxa de juros pré-fixada e os títulos indexados a inflação de prazo mais curto apresentam bom desempenho no ano. Eu não esperava que as taxas de juros de médio prazo fossem cair e ainda acredito que elas devam continuar alta. Assim se você tem esses investimentos em sua carteira, acho que deve mantê-los mas eu não os aumentaria. Na minha opinião o riso de uma alta de juros de médio e longo prazos é grande.

 

Quanto a renda variável, dentro do atual quadro, acho que o risco é muito grande e não compensa o investimento agora.

Caso se confirme o rebaixamento da nota de credito do país acredito que fortes quedas na bolsa são inevitáveis. Com taxa SELIC em 14,25% é difícil assumir risco.

Finalmente a cotação do Dólar Americano deve continuar variando muito. Não me sinto confortável em investir mais em produtos “dolarizados” (como os fundos cambiais).

Para que esse investimento seja atrativo a moeda tem que chegar no final do ano valendo mais do que R$3,70.

Muitos economistas apontam que nossa moeda ainda tem que se desvalorizar mais para possibilitar que nossos produtos concorram com os de outros países (o Brasil ainda está caro para o estrangeiro). Mas a alta do dólar é inflacionaria, o que é muito ruim para a economia e extremamente impopular. Se você tem investimentos em dólar eu aconselho segurar. Se ainda não tem, não sei se está na hora de investir. Cambio é sempre uma aposta de risco e difícil de antecipar.

 

Nossa recomendação continua a mesma. Invista em ativos de baixo risco (CDI e SELIC) e procure ficar fora daqueles com maior risco (Bolsa).

 

Lauro Araujo – administrador de empresas, trabalhou em consultorias nacionais e internacionais e em gestoras de recursos; é diretor da LAS consultoria financeira e atuarial.
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