Para um grande número de pessoas,
"dívidas" é sinônimo de "angústia". Por isso, muitos se
apressam em renegociar as dívidas sem se preparar adequadamente.
O arsenal de ferramentas financeiras
para quem quer renegociar e recompor dívidas vem aumentando. Até pouco tempo, o
“caminho de menor resistência” para quem quisesse colocar a casa em ordem era o
crédito consignado (ainda presente, mas que começa a ficar um pouco menos
acessível à medida que mais pessoas perdem seus empregos). Recentemente, a
liberação de saldos inativos do FGTS abriu mais uma possibilidade e tem, também,
o crédito com garantia em imóvel (home equity), que começou a ganhar
relevância há poucos anos, ainda de forma tímida, mas que vem se tornando mais
popular.
O fato de termos mais opções de crédito não significa que elas
estejam mais acessíveis. Pelo contrário, é notório que as instituições
financeiras estão restringindo o acesso ao crédito, mas as ferramentas vão
surgindo, e aumenta o número de pessoas que se conscientiza da necessidade de
colocar a vida financeira novamente nos eixos.
Porém, renegociar uma dívida é algo que exige uma preparação
que, frequentemente, é negligenciada. As pessoas se “apressam” em renegociar as
dívidas (e isso é compreensível, dado o grau de angústia e stress que elas
causam) e acabam não dando a devida atenção para duas coisas de suma
importância:
Dívida não é um problema
A primeira delas é que o endividamento não é um problema. Ele é
uma “consequência” – algo que resulta de um outro problema, que pode ser a
perda do emprego (ou outra fonte de renda), decisões de consumo inconsequentes
entre outras coisas.
Antes de renegociar uma dívida, é importante que se descubra
qual é o “verdadeiro problema” – qual é a causa daquele endividamento. Tratar
uma dívida como mero “problema financeiro” faz com que, na maioria das vezes,
as pessoas resolvam “o problema errado”. Elas pegam uma linha de crédito,
equacionam as dívidas e a vida segue “do mesmo jeito”. O resultado disso é que
apenas se “empurra com a barriga” aquilo que iria acontecer, inevitavelmente. A
pessoa está à beira da falência, porém, faz uma nova dívida, ganha um fôlego
financeiro adicional e, assumindo que as verdadeiras causas não sejam
resolvidas, ela vai falir do mesmo jeito, só que “um pouco mais tarde”.
Atenção à capacidade de pagamento
A outra coisa que costuma ser negligenciada é a real capacidade
de pagamento da pessoa. Na pressa em “resolver” a situação (e também por conta
da pressão dos credores), algumas pessoas se comprometem em renegociar uma
dívida em condições pouco realistas, que elas não vão conseguir cumprir. Isso
acaba levando a um “novo calote”, que frustra tanto o devedor como o credor, e
pode acabar erodindo qualquer boa vontade da parte do credor em uma nova
renegociação.
Por isso, é fundamental que a pessoa faça um estudo aprofundado
das próprias finanças e simule todas as situações, para ter segurança de que
poderá dar conta dos novos compromissos.
É fundamental que essa lição de casa (que consiste em
identificar as verdadeiras causas do endividamento e qual é a real capacidade
de pagamento) seja feita de forma cuidadosa e criteriosa, nem que isso tome um
tempo e acabe postergando um pouco o processo de renegociação. Mas tem certas
coisas em que é “melhor não facilitar”, especialmente quando se usa como
“veículo” da renegociação, por exemplo, o crédito com garantia em imóveis.
Num caso assim, uma preparação “mal feita”
pode significar apenas um alívio temporário do endividamento, seguido de mais
endividamento e, em casos extremos, da perda (às vezes irreparável) de um bem
de alto valor.
André Massaro - Escritor,
palestrante, consultor financeiro