A onda das bebidas não alcoólicas
Mercado
gigantesco se forma para atender ao fenômeno do sóbrio curioso.
Um dos efeitos da pandemia é ter provocado um aumento gigantesco no consumo de álcool. Nos
Estados Unidos, houve crescimento de até 34% na venda de bebidas alcoólicas.
Houve também uma explosão do uso de aplicativos de entrega para compra de
álcool. Alguns relatando crescimento de até 350%.
No entanto, há uma onda vindo
forte contrária a essa tendência: o fenômeno do sóbrio curioso, ou sober
curious, no original em inglês.
Há um mercado
gigantesco se formando para atender a essa nova tendência de pessoas que buscam
produtos sem álcool. Depois do boom das cervejas artesanais, surge no horizonte
a explosão das bebidas sem álcool.
Esse mercado era até há pouco praticamente
desatendido. Quem não queria beber tinha a opção de pedir basicamente água,
suco ou refrigerante. Isso está mudando radicalmente.
Há uma geração de marcas novas oferecendo bebidas
de todos os tipos para quem quer ir para um bar, uma balada ou um encontro
social e não beber (ou beber menos).
São bebidas feitas para adultos que buscam
manter o prazer em eventos sociais sem os efeitos negativos do álcool.
Muitas delas usam ingredientes adaptogênicos (que
ajudam o organismo a lidar com estresse). Dentre eles, gengibre, ginseng,
manjericão-santo, turmérico, astragalus, raiz-de-outro e centella-asiática,
dentre outros.
Vendidas em garrafas similares às de cerveja
artesanal e com identificação cultural sofisticada, são úteis para quem quer
dizer não à próxima rodada de bebidas sem ter de partir para o ostracismo do
refrigerante ou suco.
Mais do que isso, são bebidas que mantêm a margem
de lucro dos bares, que conseguem ganhar dinheiro tanto de quem quer beber
álcool quanto de quem não quer.
A ideia de sóbrio-curiosidade surgiu no livro da
escritora norte-americana Ruby Warrington. Seu título completo é peculiar:
Sóbrio-Curioso: Dormir Bem, Ter Mais Foco, Presença Ilimitada e uma Conexão
Mais Profunda que Espera Todas as Pessoas do Lado Oposto ao Álcool.
O livro foi lançado no começo de 2019. No entanto,
foi só durante a pandemia que a mensagem de Ruby passou a ter impacto
gigantesco.
Pessoas que entornaram o caldo durante esse período passaram a
buscar alternativas para retomar a vida social sem os efeitos do álcool.
É exatamente nisso que as marcas sober-curious
apostam. O marketing dessas empresas mostra pessoas falando coisas como:
Quer
fazer exercícios amanhã de manhã? Quer ter uma aparência melhor?
Quer viver um
dia sem ressaca?
Então peça uma bebida sober
curious.
O movimento tem sido bem recebido também por quem
tem problemas com álcool, os sober serious.
Passa a existir agora uma
alternativa adulta, socialmente aceita e até gourmet para quem não pode beber
(e não só para quem opta por não beber).
Perfis no Instagram como o @fucking_sober têm feito um ótimo
trabalho em subverter de forma cool a luta contra o alcoolismo, tornando essa
própria luta e a ideia de sobriedade cool.
Da próxima vez que for a um bar ou um restaurante,
vale conferir para ver se o cardápio já foi atualizado para incluir uma seção
de bebidas sober curious.
RONALDO LEMOS - Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP