Keith Richards, da banda The Rolling Stones –
Quem já se deu ao trabalho de experimentar coisas novas
depois de adulto pode antecipar o que vem a seguir: é claro que essa lenda
urbana é só isso mesmo, uma lenda. Mais especificamente, besteira pura.
O sistema de motivação e recompensa do cérebro, aquele
conjunto de estruturas que registra com uma sensação de prazer nossas ações que
tem resultados interessantes, esperados ou não, faz com que se busque de novo
aquilo que funcionou no passado —ou seja, deu prazer. Uma vez já pode bastar
para carimbar um evento como agradável e digno de repetição.
É fato que na adolescência essas estruturas ficam
particularmente susceptíveis a novas descobertas, devido a uma perda programada
de sensibilidade —responsável, aliás, pelo téééédio característico do início da
adolescência, ou seja, quando o que antes dava prazer deixa de funcionar.
Drama dos adolescentes, o tédio é também vital por
impulsionar o jovem a descobrir novos interesses, novos assuntos, novas fontes
de satisfação como política, filosofia, músicas diferentes, sexo – e drogas, a
maneira mais fácil de deixar o sistema de recompensa nas nuvens.
O começo da idade adulta marca uma fase em que a
sensibilidade do sistema de recompensa se estabiliza de fato. Mas ela nunca se
perde —ou não sairíamos da cama, por pura incapacidade de antecipar os prazeres
do dia. Pelo contrário, o mesmo sistema que nos mantém ávidos pelos prazeres
descobertos na adolescência continua apto a descobrir novos interesses ao longo
da vida.
Se nos damos ao trabalho de explorar novos assuntos,
ideias e músicas, aí é uma questão de acaso, personalidade, crenças, valores
mas, sobretudo, oportunidades.
Eu,
por exemplo, descobri já macaca velha, ao começar a conviver com músicos em
Nashville, que a-do-ro um certo tipo de música heavy metal melodiosa, como o
rock progressivo, e sobretudo com umas linhas sensacionais no baixo. Nossos
amigos músicos já descobriram que para me atrair é só começar a tocar a
abertura das minhas músicas favoritas do Metallica. Quem diria...
Suzana
Herculano-Houzel - bióloga e neurocientista da
Universidade Vanderbilt (EUA)
Fonte:
coluna jornal FSP