Uma das
características do ano de 2016, no que diz respeito a finanças e economia, foi
a retomada (ainda que gradual e discreta) dos cortes na taxa Selic e a
diminuição nas expectativas para a inflação futura.
Para os
empresários e para o público geral, usualmente a queda nos juros é uma boa
notícia, mas, no nosso caso, essa queda vem acompanhada de um aumento da
incerteza. A aversão ao risco deverá permanecer alta e vamos descobrindo que
“dinheiro mais barato” não é sinônimo de “dinheiro mais acessível”.
Para um
investidor, particularmente o investidor em renda fixa, queda de juros é a
matéria prima dos pesadelos, em especial para aqueles investidores com planos
de longo prazo ou que usam os investimentos para geração de renda.
Outra
característica de 2016, no contexto dos investimentos, foi um “retorno à vida”
da bolsa de valores. O mercado ficou animado, entre outras coisas, com
desdobramentos na cena política, e muitas oportunidades surgiram, inclusive
gerando ganhos expressivos. O que levou muitos investidores (especialmente
aqueles que estão na “zona de conforto” da renda fixa) a se perguntarem “já é
hora de mudar de estratégia e começar a migração para a renda variável”?
A minha resposta
para essa pergunta sempre acaba vindo cheia de vieses (é inevitável). Pelas
circunstâncias de mercado, nos últimos anos tenho falado muito mais sobre renda
fixa, mas minha “área de origem” é renda variável. Sou um entusiasta da renda
variável e um crente no poder do mercado de capitais para desenvolver a
economia.
Mas, por mais
que eu sinta uma vontade de dizer “vamos para a bolsa!”, eu quero lembrar
algumas coisas sobre nossos juros. A primeira é que as projeções mais otimistas
indicam que, ainda que estejamos em uma trajetória de queda, a taxa deverá se
manter nos dois dígitos ao longo de 2017 (ou seja, permaneceremos naquele
patamar em que, pelos padrões internacionais, os juros são considerados
“indecentes”). A segunda é que as taxas reais projetadas (acima da inflação)
não estão refletindo (ou pelo menos não nas mesmas proporções) essa queda.
Ou seja, parece
que ainda teremos boas oportunidades por algum tempo e os anúncios da “morte”
da renda fixa estão sendo um pouco precipitados…
Eu não acredito
(ou, ao menos, não quero acreditar) que o Brasil vai continuar sendo o “paraíso
da renda fixa” por muito tempo. Isso beneficia o investidor, mas prejudica o
empresariado e a população em geral. Em algum momento, teremos que nos
aproximar mais daquilo que se pratica (em termos de juros) no resto do mundo,
pois temos taxas de juros, hoje, típicas de um país em colapso econômico ou em
guerra civil. Mas tudo indica que ainda há “vida” na zona de conforto da renda
fixa. Nossos juros ainda precisam cair muito para chegarem perto do que se
considera “normalidade” para um país com as nossas características, então
continuaremos a ter, aqui, oportunidades que não existem em nenhum outro lugar
do mundo, como, por exemplo, obter ganhos expressivos (acima da inflação) em
títulos públicos.
André Massaro -
Escritor, palestrante, consultor financeiro