Brasil na frente dos carros voadores
Startup
criada pela Embraer lança programa de teste-piloto nesta segunda no Rio de
Janeiro.
Há um fenômeno ainda pouco falado que promete
revolucionar a vida nas cidades globais e brasileiras.
Trata-se da chegada dos
chamados "carros voadores". O nome técnico
não é esse.
O certo é eVTOL, sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e
decolagem vertical. Um dos países que está liderando essa corrida é justamente
o Brasil. Isso acontece por causa da empresa startup brasileira Eve, criada pela
Embraer como parte do seu programa de inovação.
Um eVTOL muda totalmente o conceito de mobilidade
urbana. Por decolar e pousar verticalmente ele permite conectar muitos pontos
da cidade de forma rápida, segura e eficiente.
A aeronave tem usualmente dez
hélices, oito para mantê-la no ar e duas para a navegação. As aplicações são
múltiplas: transporte de pessoas, logística, comércio e segurança.
Outra característica desse tipo de aeronave é no
futuro não precisar de piloto.
A empresa fornece não só os veículos, mas também
todo o sistema de operação deles, controlados a distância.
Como a propulsão é
por motor elétrico, o nível de ruído é muito baixo quando comparado com helicópteros, por exemplo.
A grande vantagem do eVTOL é justamente não
depender da construção de infraestrutura física.
Por exemplo, seria possível
criar uma linha permanente de transporte do centro do Rio de Janeiro até o
aeroporto do Galeão com base em uma infraestrutura mais simples que a
tradicional (metrô, trens urbanos e corredores de ônibus).
O eVTOL precisa só
de um "vertiporto" que se conecta diretamente a outros
"vertiportos", com operação permanente das aeronaves entre eles.
O
custo de infraestrutura é bem menor já que o deslocamento é pelo ar.
Uma série de fatores econômicos e tecnológicos fazem
com que esse avanço seja possível já.
Desenvolvimento de baterias mais
eficientes, inteligência artificial, 5G e comunicação por satélite, além de
uma demanda crescente por transporte e logística com zero de emissão de
carbono.
Além disso, há muito capital entrando nesse setor, o que deve acelerar
sua chegada.
Por exemplo, a participação da Embraer na Eve está sendo avaliada em
US$ 1,2 bilhão. Faz sentido, considerando a trajetória de sucesso da empresa
brasileira no desenvolvimento e certificação de aeronaves.
Além disso o cenário
regulatório brasileiro é favorável, já que a Anac está acompanhando diretamente
esse desenvolvimento.
Tanto é que a Eve está lançando um programa de
teste-piloto que começa nesta segunda (8) no Rio de Janeiro.
Até o dia 8 de
dezembro será possível voar do aeroporto do Galeão até a Barra da Tijuca (no
Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen) e vice-versa por meio de uma linha "circular"
ao custo de até R$ 99 por trajeto.
A operação ainda não vai ser feita por um
eVTOL, mas sim por helicóptero.
A ideia da empresa é fazer uma prova de
conceito da operação dessa linha e avaliar a demanda por um serviço similar.
Além disso, nos pontos de partida vai ser possível visualizar um eVTOL em
funcionamento por meio de uma estação de realidade virtual.
Estamos em um momento em que quando se fala de Brasil um dos
últimos atributos que vêm à mente é a ideia de inovação. A Embraer e a Eve são
uma nobilíssima exceção.
RONALDO
LEMOS - Advogado,
diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.