O mês de novembro guardou inúmeras surpresas. O mercado chegou
até a melhorar imprimindo altas na bolsa e queda no valor do dólar, mas o
cenário político se incumbiu de apagar todo o entusiasmo. Os primeiros dias de
dezembro também estiveram recheados de surpresa.
Na renda fixa a taxa de curto prazo (SELIC) ficou estável em
14,25%. O IRF-M, que mede a rentabilidade dos títulos públicos com juros
pré-fixados com vencimento de até um ano, obteve uma rentabilidade de 1,07%,
acumulando um ganho de 11,69% no ano.
A rentabilidade dos títulos públicos indexados a inflação
(NTN-B) de curto prazo (até 5 anos), medidos pelo IMA-B5, tiveram uma
rentabilidade de 0,55% no mês e acumulam uma alta de 13,06% no ano. As NTN-Bs
de longo prazo, medidas pelo IMA-B5+, tiveram um rendimento de 1,35% no mês,
acumulando uma rentabilidade de 4,53% no ano. O IMA-S, que mede a rentabilidade
dos títulos públicos indexados à taxa SELIC, fechou o mês com rentabilidade de
1,06% e no ano acumula alta de 11,97%.
O IBOVESPA apresentou queda de 1,80% no mês, amargando uma queda
de 9,77% no ano e 17,66% nos últimos 12 meses. O dólar (pelo câmbio oficial –
PTAX) fechou, na ponta de venda, cotado a R$3,85, pequena queda de 0,22% no
mês, acumulando uma alta de 44,97% no ano e 50,41% nos últimos 12 meses.
As notícias políticas foram diversas e bombásticas. Primeiro
tivemos as prisões do Senador Delcidio do Amaral, seu assessor e Andre Esteves,
ex-presidente do banco de investimentos BTG Pactual. Todos acusados de tentear
obstruir as investigações da Lava Jato.
Para complicar o cenário político ainda mais os Deputados do PT
decidiram declarar que votarão contra Cunha no Conselho de Ética da Casa o que
o levou a aceitar o pedido de impedimento da Presidente, complicando mais ainda
o quadro político.
O único ganho político que o governo teve recentemente foi a
aprovação de uma nova meta fiscal que agora passa a ser um rombo nas contas
públicas superior a R$100 bilhões. Esta notícia só é boa porque mostra a
preocupação do Congresso com o funcionamento do país. Sem essa aprovação a
máquina governamental simplesmente pararia.
No dia seguinte ao anuncio da aceitação do processo de
impeachment a reação do mercado foi surpreendentemente positiva, a bolsa subiu
e o dólar caiu. Entretanto, acreditamos que o mercado está apostando que um fim
horroroso é melhor que um horror sem fim. Na nossa visão o fim horroroso não
terminará com o horror sem fim.
Dizemos isso porque do lado econômico o país está muito mal. O
PIB para o terceiro trimestre mostrou uma queda de 1,7%. As contas do Governo
Federal continuam se deteriorando rapidamente e a inflação continua alta e não
dá sinais de arrefecimento.
Só medidas duras de austeridade nos gastos do governo e
incentivo ao investimento privado podem recolocar o país em direção ao crescimento
e mesmo com a aprovação dessas medidas teremos que aguentar ainda muito tempo
com economia em retração até que a economia reaja e o país volte a crescer,
surtindo efeito apenas em 2017.
Do lado político o fim horroroso para a Presidente Dilma não
indica o fim das nossas dificuldades. Uma eventual troca de governo não põe fim
nos nossos principais problemas que são:
Do lado internacional: preço das commodities em baixa, pouco
crescimento no mundo, dólar forte.
Do lado doméstico: deterioração das contas públicas, escândalos
de corrupção, inflação alta, falta de investimentos, desemprego alto, consumo
em queda, produção industrial em queda desde 2008, para citar as principais.
Alguns desses desafios podemos resolver com muito esforço e
vontade política, outros estão completamente fora do nosso alcance. Um novo
governo não porá, automaticamente, fim ao sofrimento de nossa economia. Temos
um longo caminho a percorrer.
A única vantagem de um novo governo é que ele pode ter mais
habilidade para negociar com o Congresso medidas duras de austeridade e
reconduzir o país ao crescimento, mas o ano de 2016 será muito difícil.
Do lado internacional novembro não trouxe grandes notícias. O
FED (Banco Central dos Estados Unidos) deve mesmo subir a taxa de juros, apesar
do crescimento da sua economia não estar tão forte. A Europa cresce a passos de
tartaruga e o BC Europeu cortou mais uma vez a taxa de juros para -0,3% na
tentativa de estimular sua economia. O crescimento chinês continua abaixo do
esperado e não dá qualquer sinal de melhora.
Neste cenário não conseguimos ver motivo para alta na bolsa e
queda do dólar e dos juros internos. Terminamos o ano com a mesma recomendação
do início. Invista grande parte de suas reservas no CDI. Mantenha sua posição
em dólar.
Mantenha suas reservas de longo prazo investidas nas NTN-Bs
(Tesouro IPCA). Caso você deseje assumir mais risco continuamos privilegiando
as NTN-Bs longas que pagam taxa de juros acima de 7% mais inflação.
Lauro Araujo - diretor da LAS Consultoria,
empresa que criou recentemente no segmento de consultoria financeira e atuarial
para fundos de pensão; formado em Administração de Empresas, já trabalhou nas
consultorias Luz Soluções Financeiras e Mercer, e em gestoras de recursos como
a JP Morgan e Lloyd’s Asset Management, instrutor nos cursos da SUPORTE.