TikTok vai além das dancinhas e hoje forma opinião
e gera tendências
Plataforma
não é mais só entretenimento e precisa ser levada a sério.
O TikTok consolidou seu espaço como
ferramenta de comunicação tanto no Brasil como em outros países.
Durante o
período da pandemia, foi dos aplicativos mais baixados do planeta,
tendo superado a marca de 1,2 bilhão de usuários globalmente.
No Brasil, há mais
de 70 milhões de usuários.
Em outras palavras, é uma plataforma que precisa
ser levada a sério além da questão do entretenimento e das dancinhas.
Consegue hoje formar opinião, ecoar
debates do momento e, sobretudo, gerar tendências próprias que depois se
espalham por toda a sociedade.
Quem tenta migrar para o TikTok esbarra em uma
questão interessante.
É muito fácil tornar-se consumidor de conteúdo no TikTok,
mas muito mais difícil tornar-se produtor.
No lado do consumo, o algoritmo
rapidamente identifica os gostos pessoais dos novos usuários.
Não é preciso
criar conta para assistir aos vídeos.
É possível compartilhar qualquer conteúdo
em redes concorrentes (fazendo propaganda da plataforma).
O resultado é uma
alta capacidade capturar atenção.
Já o lado de produção de conteúdo é bem mais
complicado.
Não é todo o mundo que se aventura a produzir vídeos curtos, na
maioria dos casos até um ou dois minutos, que se valem de ferramentas de
edição, remix, filtros, colagens e outros dispositivos para comunicar algo ou
provocar experiências sensoriais.
Parte do sucesso do TikTok vem ocorrendo justamente
por representar o surgimento de uma linguagem nova.
Escrevi uma análise mais
aprofundada sobre essas estratégias no artigo sobre "a grande ruptura", publicado na
Ilustríssima da Folha.
Aprender a produzir conteúdo para o TikTok é
aprender a falar essa nova linguagem. Sobre isso há elementos importantes.
Por
exemplo, é preciso capturar a atenção de possíveis espectadores nos primeiros
três segundos do vídeo.
O processo de consumo do TikTok é selvagem. O
usuário geralmente decide de forma inconsciente se vai dedicar mais tempo de
atenção a um vídeo em menos de três segundos.
Se o vídeo não provoca interesse,
o dedo desliza sobre a tela e outro vídeo é mostrado, competindo novamente por
atenção.
Tal como em um aplicativo de paquera, eventuais
"candidatos" a serem assistidos desfilam pela tela sob o comando do
polegar.
Muitas vezes são dezenas de vídeos analisados por minuto, todos
dispensados nos primeiros três segundos.
Outro componente do sucesso no TikTok é gerar
trends ("tendências").
O algoritmo costuma premiar com mais
visualizações quem produz conteúdo que se encaixa nas tendências da semana.
Isso tem o poder de fazer viralizar músicas, pessoas, conceitos e ideias.
Aliás, um ponto importante é que o número de
seguidores não é determinante para a distribuição dos conteúdos.
Um vídeo que
produz "engajamento" pode ser distribuído para milhões de pessoas,
mesmo se o autor tiver apenas alguns poucos seguidores.
Por fim, o TikTok terá um impacto político no
próximo ciclo eleitoral. Haverá "candidatos do TikTok",
alavancando-se a partir do poder de persuasão da plataforma.
Já para as eleições presidenciais a plataforma
segue praticamente ignorada.
Exceto pelo atual ocupante do Palácio do Planalto,
que já amealhou 1,2 milhão de seguidores na plataforma na sua conta oficial.
O
segundo lugar pertence a Ciro Gomes, com 80 mil seguidores, único outro
presidenciável que se aventurou a também publicar vídeos curtos dentro da
plataforma.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de
Janeiro