Redução no número de
entidades. Crescimento vegetativo do patrimônio total. Aumento anual de menos
de 0,5% no número de planos e de 2% no de patrocinadores. Estes indicadores
representam a realidade da previdência complementar fechada no Brasil, nos últimos
cinco anos: o sistema está estagnado.
Com
grande parte dos maiores planos atingindo a maturidade e com pouca renovação na
base da pirâmide, através da entrada de novos participantes e contribuições, o
prognóstico tampouco é bom. Se nada for feito, o sistema iniciará seu declínio
até chegar a um patamar menor ao que se encontra hoje, o que inclusive pode
significar sua extinção a longo prazo.
Enquanto
isto, a previdência complementar aberta comemora o aumento da arrecadação,
especialmente em planos individuais. O que soa inicialmente como boa notícia
precisa ser encarado de forma realista: poucos são aqueles que aplicam em PGBLs
ou VGBLs pensando no longo prazo; em complementar a renda familiar para a
aposentadoria; ou para eventos de risco, como invalidez ou morte. Não ajuda o
fato de as regras para concessão de benefícios vitalícios nesses planos serem,
normalmente, pouco vantajosas, ao utilizar premissas altamente conservadoras
que prejudicam o valor da renda. Com isto, mesmo sendo um importante veículo de
poupança, a previdência aberta ainda não se firmou como instrumento de
reposição de renda.
O que ajuda e o que atrapalha a evolução da previdência
complementar
Temos
no Brasil cerca de 10 milhões de pessoas recebendo na iniciativa privada uma
renda superior ao teto do INSS e outras tantas com perspectiva de chegar a esse
patamar durante suas carreiras. Posso apostar que quase nenhuma delas espera
receber da previdência social um benefício suficiente para garantir uma boa
aposentadoria. E é noção comum que as regras de concessão de benefícios pelo
INSS serão cada vez mais duras – o tema, aliás, é prioridade da agenda
estratégica do Governo Federal.
A
consciência coletiva de que a previdência social é insuficiente e que cada um
precisa fazer seu pé de meia para alcançar uma aposentadoria em patamar
desejável é, certamente, um dos maiores impulsionadores atuais da previdência
complementar. Quanto mais a primeira vai mal e se torna mais restritiva, mais
as pessoas buscam a segunda como maneira de planejar seu futuro financeiro.
Apesar
disso, pessoas e empresas não andam priorizando a previdência complementar
tanto quanto deveriam. E há explicações para isto. Vamos ver algumas, que
entendo ser as principais.
De
origem, continua muito aquém do desejável a educação financeira e
previdenciária da nossa população – mesmo na parcela mais educada e de alta
renda.
Os
incentivos tributários existentes ainda são pouco compreendidos e incompletos.
Abrangem apenas segmentos da população e das empresas.
O
momento atual que o Brasil vive ainda carrega consigo dois detratores: o fator
econômico, que esfriou o crescimento das empresas e endividou indivíduos,
levando a um corte generalizado de custos (como falar em guardar uma parte da
renda para o futuro quando quase 50% dela está comprometida com dívidas do
passado?); e o fator político, que levou à descrença generalizada nas
instituições ligadas, mesmo que indiretamente, ao Estado. É o caso de alguns
fundos de pensão, que sofrem contínuas exposições negativas na mídia em razão
de suspeitas de corrupção, e com isso prejudicam a reputação de uma indústria
sólida.
Uma questão de Estado
É certo
que as pessoas precisarão cada vez mais de um veículo para complementar suas
aposentadorias, mas as alternativas existentes não vêm suprindo essa
necessidade. Ainda é muito pequena a parcela da população que está,
efetivamente, se preparando de maneira adequada para a aposentadoria.
Com o
aumento da longevidade e enrijecimento das regras da previdência social, só há
dois caminhos: ou o modelo de previdência complementar é reformulado para que
passe a atender adequadamente ao atual cenário e supere as dificuldades que
encontramos no modelo que temos hoje, ou teremos cada vez mais idosos com renda
insuficiente para se sustentar, resultando num grave problema social.
Repensar
a previdência é, portanto, uma questão de Estado. Espero que a agenda estratégica
deste Governo considere a necessidade de reformá-la como um todo, não tratando
apenas de parte do problema. As gerações, atuais e futuras, agradecem.
Guilherme Brum Gazzoni -
Administrador, Pós-Graduado em Finanças e com Especialização em
Entrepreneurship pela Babson College – Boston / Massachussets. É Diretor
Administrativo e Comercial da GAMA Consultores Associados.
Fonte: GAMA Consultores Associados