Tolerância
mínima a sons específicos, como o de mastigar chicletes, desencadeia irritação
Obra 'As Paredes Têm Ouvidos' do artista plástico Marcos
Chaves -
Problemas de audição podem interferir na atividade
social e no trabalho de muitas pessoas. Aparelhos auditivos amplificadores para
a audição reduzida resolvem o problema na maioria dos casos.
Mas a tolerância mínima a sons específicos, como o de
mastigar chicletes e assobios, desencadeia reações de irritação, repulsa ou
raiva incontida. Essa condição foi identificada a partir de 2001 e ficou
conhecida pelo nome de misofonia.
Durante alguns anos especialistas debateram se essa
condição auditiva era um sintoma de transtorno psicológico ou uma doença.
Para os médicos Sukhbinder Kumar e colaboradores do
Instituto de Neurociência da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, com
base em pesquisa publicada na revista Current Biology, a misofonia é uma
doença.
Por meio de exames de ressonância magnética, os
especialistas observaram imagens com alterações em áreas cerebrais
desencadeadas por sons irritantes para o paciente.
Os pesquisadores observaram durante o exame que esses
pacientes passavam a apresentar um padrão de conectividade diferente no lobo
frontal, normalmente responsável por suprimir reações anormais ao som.
Observaram também que esses "sons de gatilho"
proporcionavam resposta fisiológica aumentada, com aumento de frequência
cardíaca e sudorese em portadores da misofonia.
A
pesquisa conclui que há uma diferença na estrutura e na função cerebral desses
pacientes. Trata-se de uma evidência de um distúrbio que sugere tratamento
também para as condições associadas a reações emocionais anormais, além do
desconfortável tampão auditivo que diminui o volume da onda sonora.
Julio
Abramczyk - médico, vencedor dos prêmios
Esso (Informação Científica) e J. Reis de Divulgação Científica (CNPq).
Fonte:
coluna jornal FSP