Longevidade, consumo e trabalho


Longevidade, consumo e trabalho

É imperativo que empresas compreendam o envelhecimento e desenvolvam cultura que inclua e valorize clientes e trabalhadores idosos

Pode ser que você ainda não tenha refletido sobre a relação entre a participação de mercado das empresas e o fenômeno global da longevidade, como apontado no relatório World Population Prospects de 2019, das Nações Unidas, e pelo recente censo do IBGE.

Quanto à longevidade, não é preciso um relatório para perceber as mudanças que temos vivido no mundo. Basta observar seus pais e amigos, que estão vivendo mais tempo, e pessoas conhecidas, que têm cada vez menos filhos.

Diante disso, é necessário avaliar como as empresas estão se ajustando a essa nova realidade dos mercados de consumo e de trabalho; como elas planejam criar produtos e serviços que atendam às expectativas e necessidades da população envelhecida; e como manter e ampliar a participação de mercado.

Para fomentar a reflexão, poderíamos tomar como base o Sudeste, que em 2024 representa 42% da população brasileira. 

Nesta região, a faixa etária de 45 a 64 anos crescerá 9% entre 2010 e 2030, enquanto a população de 20 a 44 anos diminuirá 9% (em relação ao total da população entre 20 e 64 anos).

Não há dúvida de que o mercado consumidor na região Sudeste caminha para ser diferente em 2030 do que era em 2010. 

Em 2010, a população com mais de 60 anos representava 12% do total, e em 2030 essa proporção será de 21%. 

Em 2010, pessoas com 50 anos ou mais representavam 22,4% da população do Sudeste. 

Em 2034, esse índice está estimado em 36,6% —ou seja, crescimento de 64% em relação ao período anterior.

Diante dessa realidade, é preciso adicionar novos produtos e serviços que acompanhem a longevidade dos clientes.

A reflexão não se limita ao Brasil. 

De acordo com a publicação de 2020 do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) —"A Economia Prateada na América Latina e no Caribe como oportunidade para a inovação, o empreendimento e a inclusão"—, o crescimento do consumo entre 2015 e 2030 nas faixas etárias mais altas é global. 

Na América Latina, por exemplo, o consumo das pessoas entre 60 e 74 anos ou entre 45 e 59 anos cresce mais do que entre a faixa de 30 a 44 anos.

Com base nesses números, é imperativo que as empresas trabalhem na desconstrução dos estereótipos negativos imputados aos mais velhos, porque estereótipos geram preconceito etário e discriminação, o que pode se refletir em seus produtos e serviços.

Portanto, investir em estratégias que incluam trabalhadores mais velhos em seus quadros, e que proporcionem treinamento contínuo, nos moldes do conceito de aprendizagem ao longo da vida, torna-se essencial para a sobrevivência e o crescimento das empresas.

Estima-se que, em 2030, as empresas que tiverem desenvolvido uma cultura organizacional que inclua e valorize os trabalhadores mais velhos (e clientes mais velhos) e, portanto, possuam uma melhor compreensão do que significa o envelhecimento, estarão mais bem preparadas para navegar nesse novo "oceano prateado". Afinal, navegar é preciso.

PATRÍCIA SANTOS - mestre em administração de empresas (Mackenzie), economista (PUC-SP), consultora e professora na área de gestão de negócios (Senac).

 

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