A estreia de Roberto Dávila no canal de notícias GloboNews
(sábado, 22/3, 24h), entre outros méritos trouxe o ministro Joaquim Barbosa em
ângulo diferente do magistrado irado e implacável que as câmeras de TV costumam
captar nas sessões da corte suprema.
Sempre
enfatizando seu distanciamento da política partidária e negando sua admissão na
disputa eleitoral deste ano, Barbosa deixou-se impregnar pelo espírito do
logradouro onde ocorreu a entrevista – a Praça dos Três Poderes – e apareceu
muito à vontade como rei-filósofo, judicioso, reflexivo.
Entre
suas ponderações, uma sugere desdobramentos neste Observatório. Ao
constatar que nossa mídia ocupa-se mais com pessoas do que com ideias, o
ministro Barbosa nos remete obrigatoriamente à opinião manifestada há cerca de
oito meses, no exterior, sobre o mesmo tema: nossa mídia não é pluralista.
Relevância
em risco
Se a
imprensa que serve à sociedade atende mais à sua vocação mundana e, por outro
lado, não é suficientemente diversificada e matizada, temos diante de nós uma
radiografia bidimensional próxima da realidade porque envolve qualidade e
quantidade.
Preocupante:
uma imprensa aferrada aos desempenhos individuais, desatenta aos movimentos
capazes de produzir mudanças, e, ainda por cima, altamente concentrada, condena-se
a confinar-se à esfera do espetáculo, secundarizada, a reboque do oportunismo e
da aleatoriedade.
O
sutil diagnóstico do meritíssimo escapou aos analistas que no dia seguinte,
conseguiram comentar a entrevista (certamente porque tiveram acesso à gravação
antes da exibição). E aqui uma situação ainda mais grave: se a imprensa passa
ao largo das avaliações sobre o seu desempenho está abdicando conscientemente
da relevância que tem no mundo contemporâneo.
Em
outras palavras: o Quarto Poder não se enxerga na Praça dos Três Poderes.
Com a
contratação de Roberto Dávila, Mário Sérgio Conti, Fernando Gabeira e a
revalorização de Geneton Moraes Neto, a GloboNews retoma a estratégia de
produzir uma TV adulta. Há exatos dois anos, este observador fez registro
idêntico a propósito da qualidade do Jornal das 10. Resultado: o âncora
foi trocado e espalhou-se informalidade e descontração na grade noturna.
Espera-se que, desta vez, o elogio funcione a favor do telespectador.
Alberto Dines – jornalista, escritor, dirigiu
e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal, foi editor –chefe
do Jornal do Brasil, criou o site Observatório da Imprensa, é pesquisador
sênior do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
Fonte: site Observatório da Imprensa