Qual seria o plano B de Steve Jobs para a
dependência digital?
Talvez ele nos
respondesse que não há sistema à prova de falha.
O que é
feito dos equipamentos eletrônicos depois que a tecnologia os aposenta?
Alguns voltam com sucesso, no nicho
dos aficionados, como tem sido o caso dos toca-discos para ouvir gravações em vinil. E esse retorno, digamos, reaquece alguns segmentos
da indústria.
Outros como videocassete, videolaser, gravador,
walkman, iPod, ficaram mesmo pelo caminho.
Se o genial Steve Jobs não tivesse partido tão
precocemente, certamente estaríamos tratando aqui de um plano B para a
dependência digital, e de novidades que substituiriam smartphones, apps e
outros ícones de hoje.
Isso acontece, a propósito, em todos os segmentos
industriais, pela obsolescência programada –material e tecnológica. E nós
pagamos, literalmente, por isso.
Uma pessoa de 80 anos provavelmente já usou, e em
muitos casos comprou, vários tipos de aparelhos de som, de televisão e de
computador, entre outros. E há vários produtos substituídos pelo smartphone, que por sua vez aposentou o
celular, usado para falar, vejam só.
E as
funções do smartphone, então, concentraram em um só aparelho o que era feito
por inúmeros equipamentos e em endereços físicos de nosso dia a dia: agências
bancárias físicas, agenda de telefones, álbum de fotografias; calculadora,
calendário, carteirinha do plano de saúde, cartões de crédito, cheques e
dinheiro em espécie; computador e notebook, controle remoto, documentos (RG,
CPF, carteira de trabalho, carteira de motorista, título de eleitor, IPVA,
SUS); editores de texto, games, guia de ruas; lojas físicas e virtuais;
máquinas fotográficas e filmadoras; passagens de ônibus e de avião; pedômetro
(contador de passos); rádio, relógio, cronômetro e despertador; scanner;
supermercados; tíquete de estacionamento; toca-discos, videocassete.
Por
isso, o apagão virtual —que impactou voos,
operações bancárias, fornecimento de energia etc. —, chamou a atenção de todos nós, dependentes da
tecnologia em larga escala. Foi estranho, por exemplo, ver companhias aéreas
emitirem cartões de embarque escritos a mão.
Por
ataque de hackers ou por falha de sistema, talvez sejamos obrigados a retirar
dos armários e dos fundos das gavetas relógios, despertadores, documentos
impressos, cartões e até um sólido aparelho de rádio, para ouvir as notícias
sobre o caos digital.
Seria muito bom poder perguntar o que fazer a Steve Jobs.
Talvez ele nos respondesse que não há sistema à prova de falhas, e que é sempre
bom ter um plano B.
MARIA INÊS DOLCI – advogada especializada na área da defesa do consumidor.