O negócio de locação e a relação com o locatário sob a ótica do proprietário.
Comprar imóveis, residenciais ou comerciais,
e viver da renda de aluguéis sempre foi e continua sendo uma boa forma de construir patrimônio e
acumular riqueza.
A percepção de muitos é a de que a vida dos
capitalistas é uma maravilha. Entretanto, essa é uma visão romântica desse
negócio.
Transmite a falsa impressão de que não existem riscos nesse
investimento. Existem, e não são poucos.
Uma leitora
da Folha me escreveu contando os problemas que
enfrenta para administrar os imóveis que tem, alguns herdados e outros
adquiridos para dar continuidade à tradição da família de investir em ativos
reais.
O negócio idealizado: ganhar um aluguel excelente e
ter inquilinos perfeitos, que não exigem, não reclamam e não depredam.
E uma
imobiliária parceira que cuida dos interesses dos proprietários, dos
inquilinos, além dos dela próprios.
Imóveis em constante valorização
beneficiados com investimentos públicos em infraestrutura, transporte público,
crescimento planejado e sustentável das regiões.
O negócio na vida real: investir capital e receber
rendimentos, em média, inferiores aos oferecidos no mercado financeiro; fazer
reformas e reparos na entrada e na saída do inquilino; satisfazer as
exigências, depredações, a inadimplência de alguns inquilinos; lidar com o
pouco apoio das imobiliárias; suportar a desvalorização dos imóveis; assumir o
risco de vacância do imóvel que não só interrompe o fluxo de renda como demanda
custos até que o imóvel seja alugado novamente.
Como o déficit habitacional no Brasil é um
problema ainda por resolver, a questão do inquilinato envolve aspectos sociais
e, por consequência, a intromissão de políticas públicas em negócios privados.
O proprietário aparece sempre como o vilão.
Entretanto, ele exerce um papel de extrema importância que ajuda a resolver o
problema social. “Ter um imóvel para abrir um negócio ou morar não é
essencial?”, questiona a leitora.
Certamente, e é exatamente a disponibilidade do
capitalista de investir e correr os riscos do mercado imobiliário que viabiliza
a necessária moradia para as famílias e o espaço de que empreendedores precisam
para abrigar seus negócios.
Desencantada com as muitas dificuldades para
administrar um patrimônio formado basicamente por imóveis, ela argumenta que
investir no mercado financeiro, com apenas um clique na tecla do computador, e
receber rendimentos superiores aos dos aluguéis parece ser uma opção melhor.
Alguns números demonstram os pesados custos e
tributos do locador: um aluguel mensal bruto de R$ 1.500, por exemplo, deixa
10% na mesa da imobiliária e 20% de Imposto de Renda recolhido mensalmente via
carne-leão. Aluguel mensal líquido de R$ 1.080.
Além disso, a imobiliária cobra
100% do valor de um aluguel bruto (R$ 1.500) a título de serviços prestados
para intermediar a locação.
Talvez por essa e outras razões cresce a indústria
de fundos imobiliários que permitem investir
no setor sem a concretude dos tijolos.
Entretanto, a reforma tributária
pretende acabar com a isenção dos rendimentos distribuídos pelos fundos
imobiliários aos cotistas pessoas físicas; se as coisas caminharem nesse
sentido, o mercado imobiliário, fortemente afetado pela pandemia, sofrerá um
novo baque.
Parece que os proprietários capitalistas, valentes
e resilientes, fazem mais por esse mercado do que as políticas públicas.
Muitas
vezes, realizam acordos pouco rentáveis exercendo um papel de promotor da
economia e do bem-estar social.
MARCIA
DESSEN - Planejadora financeira CFP (“Certified
Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu
Dinheiro”.