Mulheres pela vida
Nesta data vamos
ressaltar o papel das mulheres que atuaram para salvar vidas.
Em anos anteriores, escrevemos e também falamos
sobre as mulheres na ciência, abordando a importância de celebrarmos este dia 8
de março.
Porém, ao invés de apresentarmos números ou analisarmos o quanto as
mulheres ainda não ocupam todos os lugares de comando ou de decisão (apesar de
serem maioria), vamos tratar sobre as inúmeras mulheres que enfrentaram a
pandemia de covid-19.
O dia 8 de março é uma data simbólica, marcada por
uma história de luta de mulheres que foram oprimidas. Representa um momento de
celebração a partir de conquistas.
Para alguns, há o desejo de distribuir
flores ou poemas; para outros, há o desejo de reafirmar a história e o quanto
ainda precisamos realizar para atingir a equidade.
Passados quatro anos do anúncio da pandemia de
covid-19 e dos primeiros casos registrados no Brasil, hoje queremos ressaltar o
papel das mulheres, cientistas ou não, que atuaram no enfrentamento da crise
sanitária que assolou a humanidade.
Mais uma vez, destacar o papel das mulheres
cientistas e daquelas na linha de frente, que encararam todos os impactos
produzidos pelo coronavírus.
Começamos pelas mulheres que atuaram para salvar
vidas: médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, farmacêuticas e dentistas, que
passaram dias dentro de hospitais, deixando de conviver com suas próprias
famílias.
Que foram para abrigos temporários para poder dar assistência às
pessoas, sem correrem o risco de levar o coronavírus para dentro de suas casas,
suas famílias. Foram inúmeros casos de trabalhadoras da saúde que ficaram sem
ver seus pais, companheiros e até filhos por meses a fio.
Pessoas que passaram a
viver em hotéis ou alojamentos para que pudessem se dedicar integralmente à
assistência e a salvar vidas.
Infelizmente, entre elas, houve as que ficaram
gravemente doentes, as que tiveram que lidar com sequelas e traumas e, ainda,
as que perdemos para a covid-19.
Para não cometermos injustiças, não vamos
citar nomes, mas foram muitas e devemos muito a elas.
Hoje, sabemos que as mulheres foram as mais
atingidas pela pandemia em muitos outros sentidos, especialmente, porque muitas
são responsáveis pelo provimento de suas casas.
Enfrentaram mais o desemprego ou a
perda de seus trabalhos e,
também, sofreram ainda mais como vítimas de violência doméstica.
Essa realidade afetou, principalmente, o nosso continente, acentuando
e potencializando as desigualdades de gênero.
Estudos mostram que as mulheres
foram as mais afetadas economicamente e emocionalmente, as que
mais demoraram a retomar seus trabalhos e que sofreram de forma mais intensa
com a sobrecarga de trabalho aumentada.
Estudos
também mostraram que a mortalidade atingiu em cheio as mulheres,
principalmente, as negras e pobres.
Quanto tempo levará para sanar as dores e as perdas? Precisamos deste olhar.
No dia 8 de março de 1917, milhares de operárias
foram às ruas para reivindicar melhores condições de vida e para mostrar sua
indignação frente às ações do Czar Nicolau II.
Por conta disso, mulheres
perderam suas vidas lutando por seus direitos, marcaram uma época e
pavimentaram um caminho que agora outras podem seguir. Estas mulheres não podem
ser esquecidas e são exemplos.
Ao mesmo tempo, não podemos esquecer das
mulheres guerreiras da pandemia.
São outros tempos, mas a luta das mulheres
continua, já que, diante de uma situação de extrema vulnerabilidade, como a da
pandemia, as mulheres encararam todas as frentes de atuação com coragem.
A
todas elas, nossa homenagem e, principalmente, nosso agradecimento.
Precisamos contar mais suas histórias, sem deixar
ninguém para trás.
Mulheres que podem ser lembradas por meio de algumas de suas
representantes, tal como a primeira pessoa a receber a primeira dose da vacina
contra covid ou a enfermeira que permaneceu na UTI de um grande hospital
por meses a fio. Elas
representam muitas.
Nossa lembrança é levada às pesquisadoras e
cientistas que trabalharam nas vacinas, que
desenvolveram conhecimento sobre novos fármacos, que foram ao laboratório para
encarar os tubos de ensaio contendo o vírus ou as atividades da linha de
frente, com algumas alcançando um importante destaque.
Ressaltamos as
mulheres na gestão de tecnologias, que trabalharam no conserto de respiradores
ou outros equipamentos e que foram cruciais para salvar vidas.
E aquelas
que atuaram na criação de novos equipamentos e novos materiais pela
impressão 3D, ajudando milhares de pessoas.
Sem contar os novos tecidos criados
especialmente para que as mulheres costureiras fizessem máscaras e aventais,
que pudessem ser utilizados nos hospitais.
Não podemos deixar de falar das mulheres
professoras, que acolheram e fizeram movimentos para proteger os(as)
estudantes.
Das mulheres estudantes, que tiveram coragem e seguiram em frente.
As comunicadoras e jornalistas, que souberam levar as mensagens e notícias
sobre a pandemia a todos os lugares, trabalhando a desinformação intencional,
as fake news, que certamente geraram muita confusão e contribuíram para
aumentar as perdas.
Foram muitas as perdas, e já falamos sobre isso
anteriormente em nosso blog.
Em breve, o SoU Ciência lançará o painel da
pandemia, no qual muitos dados mostrarão os grandes danos sofridos pelas
notícias falaciosas - o que nos lembra do papel das mulheres que trabalharam
para apresentar dados e depoimentos em audiências públicas da CPI da covid-19.
Neste Dia Internacional da Mulher, lembremos das
mulheres que viveram e enfrentaram a pandemia.
Não nos esqueçamos onde
estiveram e a maneira como puderam conviver com tantos desafios ao mesmo tempo,
mas que também tiveram coragem e liderança nos momentos mais difíceis.
Dedicamos esta coluna hoje a todas que estiveram neste lugar, as conhecidas e
as anônimas. As cientistas, as profissionais de saúde, as trabalhadoras em
todos os níveis, as responsáveis por suas famílias.
Enaltecemos todas as
capacidades, para que sejam alimento para a vida. Nosso agradecimento a todas
as mulheres de todos os lugares.
SORAYA SMAILI,
PEDRO ARANTES, MARIA ANGÉLICA MINHOTO
Farmacologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp
e ex-reitora da universidade (2013-2021)
Arquiteto e urbanista, é professor da Unifesp e
coordenador do SoU_Ciência
Pedagoga e
economista, doutora em Educação pela PUC-SP. Professora associada da Educação
da Unifesp.